segunda-feira, 22 de abril de 2013

A Escola Ideal - Rubem Alves


O educador e escritor Rubem Alves defende uma 
educação ligada à vida do estudante

Quando eu era menino, na minha escola, tinha uma aula de leitura, a aula de leitura era a aula em que a professora ia ler para nós: Monteiro Lobato.

Ninguém faltava à aula, era um silêncio absoluto, não precisava a professora dizer: “meninos, silêncio, menino”.

Na escola não pode ter essa palavra silêncio porque naturalmente se a escola é boa, as crianças vão fazer silêncio, porque elas vão gostar daquilo que eles estão fazendo.

Frequentemente os professore só têm que repetir aquilo que já vem nas apostilas.

Recebi a carta de um menino: “Querido Rubem Alves, li o seu livro O patinho Que Não Aprendeu A Voar, aprendi que liberdade é a gente fazer aquilo que a gente deseja muito e eu quero ser livre, ponto, parágrafo”.

“Tenho uma professora que é demais, ela manda a gente ler seus livros e grifar os encontros consonantais e os dígrafos.” – silêncio – 

O que o menino vai fazer com o encontro consonantal, pra que serve isso? Pra nada. E dígrafo, pra que serve? Pra nada.

Era preciso que os professores parassem e dissessem: “não vamos seguir o programa, vamos fazer as coisas que são essenciais no ambiente em que a criança vive”.

Então, eu diria que os professores teriam que fazer sempre essa pergunta: “isso que eu vou ensinar serve pra quê”?

Eu descobri em Portugal uma escola que me impressionou muitíssimo, chamada Escola da Ponte, escrevi até um livro sobre ela, A Escola Com Que Sempre Sonhei Sem Imaginar Que Pudesse Existir. Os professores estão junto com os alunos pra ajudar os alunos.

Essa ideia do professor ir lá dar uma aula, ficar na frente, os aluno copiando, “ou ouvindo[1]”, isso não existe. Os professores são companheiros dos alunos, não tem nota, nota é uma inverdade porque aquilo que o aluno produz numa prova, não revela o que ele pensa.

A gente precisaria ter uma educação ligada com a vida porque é pra isso que a gente aprende, pra viver melhor, pra ter mais prazer, ter mais eficiência, poupar tempo, não se arriscar.


[1] Grifo de Maurício Rufino dos Santos


Um comentário:

Valéria Knopp disse...

Eu amoooooo Rubem Alves! Se as pessoas detentoras do poder de mudança nesse país, os políticos que têm o investimento necessário para fazer a diferença o compreendessem, nossa educação seria de primeiro mundo! Seria mais! Seria universal!