"Intransigência alemã vai prevalecer"
"O plano de resgate da Grécia não tem condições de funcionar, porque a
austeridade que se exige é impossível. Antonis Samaras venceu as
eleições com base na promessa de renegociação. O mercado tem a
expectativa de soluções de longo prazo na reunião de cúpula da próxima
semana, um plano coerente para resolver a crise da dívida. Mas a
intransigência alemã vai prevalecer e não virá solução. A resposta dos
mercados vai ser ainda mais dura e os líderes da França e da Itália vão
pressionar a Alemanha por uma mudança de curso. Isso vai levar muito
tempo até se chegar a algum resultado concreto.
O presidente francês François Hollande quer mudar o curso da
austeridade e incorporar uma política de crescimento. Estou otimista:
com o tempo, acredito que mudanças virão. Mas temo que vão chegar um
pouco tarde demais. Os eurobônus são necessários, assim como um fundo
garantidor de depósitos que englobe todos os bancos de países da zona do
euro. Minha expectativa é de que os problemas incontornáveis do sistema
financeiro espanhol e, em seguida, possivelmente, também do italiano,
podem ser os catalizadores do estabelecimento de um programa de títulos
de dívida europeus.
O sistema financeiro europeu é frágil. Só com união fiscal o sistema
de pagamentos estará a salvo. É o único jeito de evitar corridas
bancárias quando eventuais crises aparecerem. É tempo de que o BCE
exerça o papel de um verdadeiro banco central e seja o emprestador de
último recurso.
Todas as tentativas de salvar o euro só valem a pena se conseguirmos
chegar à união fiscal. Atualmente, o euro é um projeto incompleto e sua
dissolução é uma possibilidade concreta. A única solução para o euro é
uma união fiscal como a que chamamos de Estados Unidos da América. Se
não, temo que o euro esteja em seus estertores.
A Europa jamais deveria ter formado uma união monetária com países de
estrutura econômica tão diversa. Para que a Alemanha tenha superávit
comercial, os demais países precisam ter déficit. Os desequilíbrios vão
continuar, porque uma união só monetária não pode lidar com eles. A
Alemanha foi e continua sendo de longe a maior beneficiária do euro,
porque conseguiu, graças a um sistema de baixos salários, ser mais
produtiva e competitiva. Para a Alemanha, o euro é uma moeda
subvalorizada, enquanto para os outros países, é uma moeda
sobrevalorizada."
Valor Econômico - Opinião
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