domingo, 22 de janeiro de 2012

Kodak pede à Justiça proteção contra falência

Financiamento de US$ 950 milhões não é suficiente para recuperação de longo prazo

RIO - A centenária Eastman Kodak apresentou um pedido recuperação judicial nesta quinta-feira, para o Tribunal de Nova York, com o objetivo de reestruturar seus negócios que perderam espaço com a chegada de câmeras digitais no mercado.
Adam Fenster/Reuters 
A empresa, que inventou as câmeras de mão e ajudou o mundo a registrar as primeiras imagens da Lua, resistiu até o momento no setor de eletrônicos mas julgou que precisa de um apoio externo e divulgou um comunicado em seu próprio site, dizendo que “a companhia e suas subsidiárias nos EUA entram com pedido voluntário de 'proteção' ao Capítulo 11 da Lei de Falências dos Estados Unidos”.

Segundo "The Wall Street Journal", a empresa também contratou Dominic Di Napoli, vice-presidente do conselho da FTI Consulting Inc., para ser o diretor de reestruturação e ajudar a comandar a empresa durante o processo de reestruturação supervisionada. Além da FTI, estão prestando consultoria à Kodak a firma de advocacia Sullivan & Cromwell e o banco de investimento Lazard Ltd.

A Kodak recorreu ao pedido de ajuda depois de não conseguir levantar recursos para a sua recuperação financeira de longo prazo. Com o pedido, a empresa pretende reforçar a liquidez, valorizar a propriedade intelectual, resolver a atual situação de passivos e se concentrar nos ramos de negócios mais competitivos.

A empresa espera ter completado sua reestruturação nos EUA até o ano de 2013.
"Toda a equipe administrativa acredita, por unanimidade, que este é um passo necessário para o futuro da Kodak", disse o presidente e diretor executivo, o espanhol Antonio M. Perez.

A pioneira do setor de fotografia, com mais de 130 anos, afirma que obteve US$ 950 milhões em uma linha de crédito de 18 meses do Citigroup e que continuará a operar.

O financiamento e a proteção contra falência pode dar a Kodak o tempo necessário para encontrar compradores para algumas de suas 1.100 patentes digitais e remodelar seus negócios, garantindo o salário de seus 19 mil funcionários.

Kodak continua funcionando normalmente e pagará funcionários

Em um texto tira-dúvidas para os seus empregados, a Kodak esclarece que este não é o fim da empresa e tenta acalmar rumores afirmando que outras companhia em situação financeira semelhante têm utilizado o mesmo processo com êxito como a General Motors, a Chrysler e a Delta Air Lines.

"Para ser claro, a Kodak não está abandonando o negócio.", disse a companhia. "Vamos continuar as operações normalmanete durante todo o processo, incluindo o pagamento de salários e benefícios a nossos funcionários e o fornecimento de serviços de qualidade aos nossos clientes", garantiu.

Até o final de setembro, o grupo tinha um total de ativos de US$ 5,1 bilhões mas também tinha passivos avaliados em US$ 6,75 bilhões.

Ainda de acordo com o "WSJ", entre os credores estão os varejistas Wal-Mart Stores Inc., Target, Best Buy e Amazon.com; e também a Sony Studios, a Warner Brothers, a Disney Studios e a Paramount Studios; e a fabricante de celulares Nokia.

A fim de não deixar dúvidas para funcionários e investidores a companhia informou que todas as informações adicionais e técnicas sobre o processo de reestruturação podem ser encontradas em um site dedicado à transformação da Kodak (kodaktransforms.com).

De acordo com dados da própria companhia, o pedido de concordata feito nos Estados Unidos não afeta subsidiárias no exterior. A empresa disse ainda que não tem um porta-voz disponível no Brasil para falar sobre o futuro das operações no país.

No início de janeiro, as ações da Kodak foram ameaçadas de exclusão do pregão de Nova York. Entretanto, isso só deve ocorrer quando a própria Bolsa de Nova York (NYSE) julgar necessário, diz a Kodak.

No dia 4, a companhia recebeu um alerta da NYSE em que foi notificada que há mais de 30 dias consecutivos suas ações tinham cotação inferior a US$ 1, o que é insustentável para as negociações.

Acionistas não terão o direito de registrar uma reclamação sobre a desvalorização das ações, diz um comunicado ao grupo.

As ações da Kodak, que em 1997 eram cotadas na casa dos US$ 90. Na quarta-feira, véspera do pedido de auxílio, fecharam em US$ 0,55, menos de US$ 1. O valor é um reflexo dos tempos difíceis enfrentados pela companhia que viu seus papéis se desvalorizaram mais de 80% durante o ano de 2011.

Centenária luta para sobreviver à era digital

Pioneira de processos fotográficos, a Kodak foi fundada em 1888, em Rochester (Nova York) e há anos luta para se manter no mercado e sobreviver à crescente concorrência com a tecnologia digital.
Seu declínio atingiu sua cidade natal com o desemprego. No auge da Kodak, o total chegava a 60 mil empregados. Seu valor de mercado despencou de US$ 31 bilhões para US$ 150 milhões em 15 anos.

Desde 2007 a companhia não registra lucro e fracassou em estancar a perda de recursos.

A Kodak recorreu à uma assistência por não ter conseguido levantar capital para financiar uma recuperação financeira de longo prazo. Com o pedido, a empresa pretende reforçar a liquidez nos Estados Unidos e no exterior, rentabilizar a propriedade intelectual não estratégica, solucionar a situação dos passivos e concentrar-se nos negócios mais competitivos.

Porém, sua cartada final - uma tentativa de se transformar em uma empresa que vende impressoras de consumo e comerciais - revelou-se insustentável em meio às vendas em declínio do filme fotográfico e às caras obrigações pagas aos funcionários aposentados.

O cenário atual reverte o bom desempenho do presidente executivo que assumiu o cargo de executivo-chefe da companhia em 2005, depois de trabalhar por 25 anos na Hewlett-Packard Co., ajudando a contabilizar mais de US$ 7 bilhões em valor de mercado para a HP. Na Kodak, porém, não conseguiu repetir o feito.

A estratégia utilizada por Perez para tentar levantar o setor de impressoras da empresa levanta dúvidas sobre o destino dos cerca de 19 mil funcionários da companhia, além de representar riscos para os aposentados da Kodak, dando margens à possibilidade de a empresa tentar fugir de suas obrigações sobre as pensões e a assistência médica dos trabalhadores perante o Tribunal.

Pioneira, Kodak popularizou a fotografia

George Eastman, que deixou a escola em Nova York, fundou a Kodak em 1880 e começou a fazer chapas fotográficas. Para levar o negócio adiante, comprou um equipamento de segunda mão por US$ 125.

Oito anos depois, a companhia registrou a marca Kodak e lançou a câmera de mão e os filmes de rolo, se tornando a maior fabricante desses produtos globalmente. Eastman também foi pioneiro no pagamento de bônus aos empregados com base nos resultados da companhia.

Quase um século após a fundação, o astronauta Neil Armstrong usou uma câmera Kodak do tamanho de uma caixa de sapato quando se tornou o primeiro homem a pisar na Lua, em 1969. Seis anos depois da viagem de Armstrong, a Kodak inventou a câmera digital - presente em smartphones e tablets, popular entre crianças, tem fácil de encontrar.

Do tamanho de uma torradeira, a máquina era muito grande para fotógrafos amadores, cujos bolsos agora levam aparelhos de concorrentes como Canon, Casio e Nikon.

Mas, em vez de desenvolver a câmera digital, a Kodak a deixou de lado e passou anos vendo as rivais como a Sony, Olympus, Fuji e outras conquistando o mercado que nunca mais passaria a ter de volta.

Em 1994, a Kodak separou a divisão de produtos químicos, a Eastman Chemical, que se mostrou mais bem-sucedida.

A queda final da Kodak diante dos olhos dos investidores começou em setembro, quando a empresa sacou de maneira inesperada US$ 160 milhões de uma linha de crédito, levantando preocupações sobre falta de dinheiro. A companhia encerrou aquele mês com US$ 862 milhões em caixa.

O Globo - Digital & Mídia

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