sábado, 21 de janeiro de 2012

Reportagem contra ioga desequilibra seus seguidores

Uma das visões mais comuns em Nova York é a de jovens profissionais esguias correndo pela cidade com esteiras para ioga enroladas embaixo do braço e olhar determinado, indo para uma sessão de madrugada ou na hora do almoço, entre decisões importantes no escritório. Por isso talvez não deva causar surpresa que um artigo incendiário no New York Times, intitulado “Como a ioga pode arruinar seu corpo”, colocou de ponta-cabeça a geralmente tranquila comunidade dos amantes da ioga. Nos Estados Unidos, e talvez até na Grã-Bretanha, onde estimadas 1 milhão de pessoas a praticam com regularidade, a ioga possivelmente nunca mais será a mesma.

O artigo ofensor, que foi publicado em várias páginas da prestigiosa revista de domingo do jornal, foi escrito pelo veterano autor de ciência William Broad. Ele alegava que “grande número” de estudantes e até “professores famosos” estavam se ferindo com movimentos de ioga ambiciosos e mal ensinados.

Ele também citou extensamente as opiniões do veterano local da ioga Glenn Black, que teve uma grave lesão nas costas depois de anos de prática. Segundo Black, “a vasta maioria das pessoas deveria abandonar totalmente a ioga”, porque é grande a probabilidade de causarem sérios danos a si mesmas.

O resultado foi revolta, recriminação e uma feroz reação dos representantes de uma indústria de mais de US$ 5 bilhões nos EUA, com estimados 20 milhões de seguidores — cinco vezes mais que dez anos atrás. Bobagem, sensacionalismo, boato, bizarro e enganoso foram apenas algumas das críticas publicadas online e manifestadas ao Observer. Depois que mais de 700 comentários foram publicados no site do New York Times, não havia espaço para mais.

O conhecido grupo Ashtanga de Nova York retaliou com um artigo em seu próprio site intitulado “Como o ‘New York Times’ pode arruinar a ioga”.

Enquanto isso, a controvérsia rapidamente se tornou o assunto em centenas de estúdios em toda a cidade e centenas de milhares pelo país afora.

“Estou chocada. A ioga transformou minha vida e eu adoro praticá-la — ela me tornou muito mais saudável e calma, e meu corpo parece mais vivo”, disse Susan Davies, 28, uma designer de software, enquanto caminhava perto do Central Park a caminho de sua aula bissemanal. “Estou mais equilibrada, mais assertiva e eficiente no trabalho — meus amigos que fazem ioga dizem a mesma coisa.”

Paula Tulsi, que dirige o estúdio Reflections Yoga em Manhattan, disse: “A polêmica é enorme. As pessoas nos círculos que frequento estão enlouquecendo, porque muita gente que queria experimentar a ioga — pessoas que você traz e se curam — agora vão ter medo e pensar que a ioga é ruim. Isso é trágico e lamentável”.

“Eu achei que foi um insulto para a comunidade da ioga”, disse o terapeuta e massagista Eddie Rodriguez, que dirige a fisioterapia Maio em Nova York. Mas Rodriguez indicou que muitas aulas de ioga são cheias demais e a maioria das pessoas não tem consciência de que muitos instrutores são mal treinados — apesar de não parecerem. “Eu incentivo meus clientes a experimentar a ioga. Mas ouça as recomendações de alguém, não vá a um estúdio apenas porque tem uma aula grátis, está no pacote da academia ou fica perto de casa e os horários das aulas são convenientes. É definitivamente um caso para se tomar cuidado”, ele disse.

Em Nova York, pelo menos, as histórias de desastres com a ioga não são difíceis de encontrar. A administradora de artes Elizabeth Bennett, 45, teve um deslocamento de disco no pescoço depois de ser “intimidada” a ficar de ponta-cabeça em um estúdio de ioga em Nova York. “Quando eu hesitei, ele me chamou de ‘medrosa’. Muitos professores querem forçar os alunos a ir longe demais para servir a seus próprios egos”, ela disse.

Apesar de ter seguro-saúde, ela acabou gastando cerca de US$ 8 mil de seu bolso em acupuntura e meses de fisioterapia, até conseguir se livrar da dor. Bennett acrescentou que as pessoas confiam na ioga e contam com ela como uma fonte de cura, e não de lesões, mas agora estão aprendendo a ser mais céticas e cuidadosas ao escolher um estúdio.

Especialistas em anatomia também advertem — como fez o artigo de Broad — sobre os riscos das posições invertidas, que podem forçar vértebras cervicais ou restringir o fluxo sanguíneo para a cabeça, de maneira aguda ou progressiva.

David Patane atende a cerca de dez clientes por ano com ferimentos recentes ou antigos de ioga em sua empresa Physique, de exercícios corretivos, movimento e estilo de vida em Manhattan. Ele diz que a era do computador deu posturas erradas e cinturas grossas para muitas pessoas, que se expõem a ferimentos quando se levantam rapidamente da cadeira e começam a se contorcer sem pensar, em poses que estendem o pescoço e a espinha lombar muitas vezes enfraquecidos.

“Um pescoço empurrado 2,5 centímetros à frente do alinhamento correto — o que é comum com a postura encurvada — já está colocando 3,5 quilos de tensão na coluna cervical”, ele disse. Quando essas pessoas passam para uma posição apoiada nos ombros, ou dobram as pernas sobre a cabeça na pose do “arado”, há um risco maior de lesão, segundo ele.

Megan Branch, 22, assistente de executivo em uma empresa de internet, feriu as costas no ano passado simplesmente ao fazer o “super-homem”, em que a pessoa se deita sobre a barriga e levanta as pernas e os braços simultaneamente, porque ela estava em uma aula muito cheia, com cerca de 70 pessoas, e teve de se deitar em um ângulo errado para que outro aluno não ficasse com seus pés no rosto dela.
“Senti algo estalar em minhas costas, e então fiquei paralisada”, ela disse. Branch se recuperou descansando e alongando-se cuidadosamente, mas hoje suas costas parecem menos estáveis.

A aula comunitária de US$ 5, como muitas, simplesmente tinha um líder para se imitar, sem uma correção especializada das posições dos alunos e advertências sobre ferimentos ou para não forçar os próprios limites. Em um setor onde se obtém rapidamente um certificado e não há licença oficial, os professores de ioga podem se tornar “qualificados” com um curso online de 200 horas.

“Muitos professores estão saindo do treinamento e nem sequer conhecem os três diferentes músculos da panturrilha”, disse Emilia Conradson, que passou de professora na escola de ioga Forrest para sua própria empresa de terapia Body In Balance, em Nova York, que também trata de lesões da ioga. “A compreensão de anatomia que eles têm é ridícula, no entanto a ioga tem a ver com o físico assim como o espiritual, e precisa ser segura.” Outros peritos culpam a “ocidentalização” da ioga como mais um exercício do que uma prática holística.

Até Tulsi, embora furiosa com a natureza inflamatória do ataque de Broad, admite que o debate é oportuno. “Não é a ioga, é a má tradução ou o mau ensino da ioga que é o problema”, ela disse.

Depois de uma disputa que ameaçou desequilibrar uma das atividades de lazer preferidas da classe média americana, a lição para os devotos é clara: tome cuidado e gaste algum tempo ao escolher sua próxima aula de ioga.

“Eles culparam meu carma ruim”

A fotógrafa profissional Naomi Harris, 38, ficou deliciada com a oferta especial de um passe ilimitado de ioga para frequentar um conhecido estúdio perto de sua casa em Manhattan, no verão de 2008.

“Eu decidi que ia realmente mergulhar na coisa, e durante cerca de seis meses fui quatro ou cinco vezes por semana, e estava me sentindo realmente bem.” Mas um dia, ao descer a escada de seu apartamento no quinto andar, seu joelho travou. “Foi como um pequeno ‘ploc’ e doeu um pouco.”

Ela continuou indo à ioga durante alguns dias, mas o joelho piorou até que falhou sem advertência.

Um exame revelou uma lesão na cartilagem do menisco, o amortecedor de choques na junta do joelho, e havia necessidade de cirurgia.

“O cirurgião me perguntou o que eu tinha feito, e eu disse que estava realmente saudável e ativa, fazendo ioga até cinco vezes por semana, e ele disse: ‘Foi isso!’”

Ele disse que viu muitas lesões causadas por ioga, e a dela provavelmente derivava da “pose do pombo”, em que o joelho é dobrado para dentro em um ângulo embaixo do corpo. Depois da cirurgia,
Harris estava usando muletas e encontrou sua instrutora favorita de ioga com um dos administradores do estúdio.

“A instrutora falou: ‘Oh meu Deus, o que aconteceu?’ Eu lhe contei que o cirurgião disse que eu estava fazendo ioga demais, e ela simplesmente se afastou.”

O administrador então lhe disse que o dono do estúdio dizia que se você sofrer lesões fazendo ioga é porque tem “carma ruim”.

“Agora eu sou anti-ioga”, diz Harris.
Carta Capital - Por Joanna Walters, em Nova York

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