Já estava decidido: o jantar
seria naquele restaurante italiano que você cobiça há meses. Mas, sem você nem
sequer notar, o espaguete à bolonhesa perde a vez para uma legítima comida
alemã, que seu parceiro escolheu. E quando aparece uma promoção no trabalho
perfeita para seu perfil e seu colega afirma, de maneira muito convincente, que
a mudança não seria apropriada para você neste momento? Antes mesmo de
perceber, você declina o convite da chefia e quem fica com a vaga, claro, é o
solícito companheiro de trabalho.
As cenas descritas são
fantasiosas, mas poderiam ter acontecido. Isso porque o mundo está cheio de
pessoas que manipulam as situações cotidianas de acordo com desejos e
necessidades pessoais. “Há muita gente assim no mundo. Mas por meio de suas atitudes,
é possível identificá-las e fugir das ciladas que elas preparam”, diz
Marie-Josette Brauer, doutora em psicologia e expert em técnicas de persuasão.
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Manipuladores criam um problema
para depois vender a solução
Mas Marie-Josette pondera que nós
todos somos manipuladores em algum momento da vida. “A manipulação é uma
ferramenta social. Nós aprendemos a usá-la desde cedo”, exemplifica a
psicóloga. “Só vira uma problema quando começa a acontecer repetidamente, com a
pessoa manipulando os outros o tempo todo para conseguir o quer, sempre visando
o bem próprio”, acrescenta a expert.
Você sabe reconhecer
uma mentira?
“O problema geral da manipulação
é que cada experiência prepara o manipulador para fazê-lo mais e melhor”,
pontua Sergio Senna, doutor em Psicologia e professor do Instituto Brasileiro
de Linguagem Corporal. “Eles vão explorar qualquer aspecto que considerem
adequado para melhorar as chances de sucesso em seus golpes”, complementa
Sergio.
Psicólogo e especialista em
Terapia Comportamental, Reginaldo do Carmo Aguiar diz que é preciso ter alguns
fatores em mente para podermos diferenciar o grau de perigo que esses
indivíduos oferecem. “Para avaliar algo como problema é importante pensar nas
seguintes variáveis: frequência, duração, intensidade e a intenção da
manipulação”, analisa Reginaldo.
Você
sabe reconhecer um sorriso verdadeiro?
Além desses fatores, alguns
comportamentos são muito típicos nos manipuladores. Os especialistas apontaram
os principais. Confira:
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1. Falsos elogios – A habilidade
com as palavras é uma competência que o manipulador domina e usa sem dó. “Ele
diz na frente de todo mundo para alguém que executou bem uma tarefa: ‘Parabéns,
você deve ter passado o fim de semana inteiro fazendo isso’. Parece um elogio,
mas na verdade ele está dizendo que a pessoa não dá conta do trabalho durante o
expediente”, exemplifica Marie-Josette.
2. Reforço da culpa – Eles fazem
as pessoas se sentirem culpadas para conseguir o que querem. “É um sentimento
negativo, que motiva as pessoas a tomarem decisões para se livrarem da sensação
aversiva que ele traz”, aponta Sergio, ressaltando que o manipulador gosta de
se colocar na posição de vítima.
3. Desordem – “É a estratégia do
‘dividir para reinar’. No trabalho, isso aparece naquelas pessoas que lançam,
discretamente, dúvidas sobre a competência e a conduta dos colegas, o que acaba
provocando conflitos e gerando um ambiente de confusão. O manipulador vai
criando uma situação para que ele apareça como a única pessoa sensata”,
descreve Marie-Josette.
4. Narcisismo - “As coisas têm
que ser do meu jeito porque sou o mais inteligente”. Para Reginaldo, essa frase
é típica dos manipuladores e eles realmente acreditam nela. “Nessas pessoas, o
comportamento interpessoal mais frequente envolve atitude de grandiosidade;
busca incessante por admiração e insensibilidade ao outro”, afirma o psicólogo.
5. Exploração das fraquezas –
Sergio diz que um manipulador está sempre em busca do ponto fraco de quem ele
quer persuadir. “Eles analisam o comportamento alheio com facilidade em busca
de vulnerabilidades a serem exploradas, como a ganância”, identifica o expert,
contando que nessa situação é comum pessoas serem manipuladas em golpes que
prometem o ganho de muito dinheiro de maneira fácil.
6. Uso de lógica aparente - Para
conseguir o que quer, o manipulador usa dados e informações de maneira
enviesada. “Por exemplo, um vendedor diz para você comprar um produto porque
ele foi aprovado por 95% dos consumidores. Mas não diz que o número de pessoas
pesquisadas foi bem pequeno, o que torna a estatística pouco confiável”,
constata Marie-Josette.
7. Falso alívio – Estratégico, o
manipulador primeiro cria uma dificuldade, para depois oferecer uma
"solução". Marie-Josette descreve uma situação que exemplifica esta
conduta: “O chefe diz para o subordinado: ‘Você tem que trabalhar o fim de
semana inteiro para terminar um projeto’. Quando o empregado reclama, o patrão
diz: ‘Então fica só hoje até mais tarde’. O empregado passa a madrugada
trabalhando, mas acha que se deu bem”.
E o que fazer depois de
identificar um indivíduo com essas características no nosso convívio? Sergio
alerta que o mais importante é não tomar nenhuma medida precipitada ao perceber
uma tentativa de manipulação. “Lembre-se que o manipulador está atrás de uma
decisão. Basta mostrar-se cauteloso nas decisões que ele irá dispensá-lo por
conta própria, pois tem uma fila de pessoas desatentas prontas para cair no
golpe”, aconselha o especialista.
“Questione sempre e peça mais
informações sobre o que o manipulador diz. Confira com outras pessoas se ele
está dizendo a verdade. Você acabará descobrindo a tentativa de manipulação ou
pelo menos desestimulando o autor dela”, finaliza Marie-Josette.
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