Os dados deste artigo comparam os
dois governos Fernando Henrique, os dois governos Lula e o governo Dilma quanto
à popularidade, por trimestres. Fica claro que a aprovação do governo Dilma
quando medida pela soma de "ótimo" e "bom" só tem paralelo
na história recente do Brasil no segundo mandato do governo Lula. Desde o
início de seu mandato, Dilma conheceu avaliações, quase todas, acima de 50%.
Fernando Henrique, em seu primeiro mandato, teve a aprovação "ótimo"
e "bom" gravitando, a maior parte do tempo, em torno de 40%. A melhor
avaliação alcançada nesse período ocorreu entre o final do segundo ano de seu
mandato e o início do terceiro ano. Fernando Henrique disputou a reeleição com
pouco mais de 40% de "ótimo" e "bom", e venceu.
O segundo mandato de Fernando
Henrique começou com avaliação positiva decrescente. A popularidade do
presidente foi vitimada pela desvalorização cambial de janeiro de 1999, com a
qual vieram mais inflação e menos crescimento. A avaliação positiva do governo
Fernando Henrique em seu segundo mandato ficou sempre abaixo de 30%. Seria
impossível eleger o sucessor. Em popularidade, a Dilma de hoje está se saindo
bem melhor do que os dois governos Fernando Henrique e o primeiro governo Lula.
A avaliação de governo publicada
periodicamente pelos institutos de pesquisa está baseada em uma pergunta muito
simples: "Como você avalia o governo Dilma? Ótimo, bom, regular, ruim ou
péssimo?" A mesma pergunta é utilizada para governos municipais e
estaduais. Os elitistas de plantão, que de tempos em tempos afirmam que o
eleitorado não sabe votar, devem também passar a afirmar que os eleitores não
sabem avaliar seus governos. Voto e avaliação estão intimamente conectados.
Caberia perguntar o que é saber
votar e o que é saber avaliar. Cada eleitor avalia um governo em função de seus
interesses e de sua ideologia, em função de como liga a ação do governo com a
satisfação de seus objetivos de vida. Em que pese a enorme confusão de divisões
administrativas - no Brasil, a educação é fornecida pelos governos federal,
estadual e municipal e a saúde, pelos governos estadual e municipal -, essas e
várias outras superposições de atribuições não impedem que o eleitor saiba
minimamente qual esfera de governo cuida de qual serviço.
Os eleitores sabem que os governos
estaduais e municipais não têm controle sobre o desemprego, a inflação e o
crescimento econômico. Em 2002, no último ano do governo Fernando Henrique, o
desemprego atingiu 12,6%, a inflação foi de 12,5 e o crescimento do PIB ficou
em 2,7%. A avaliação do governo terminou o ano em 26% e seu candidato foi
derrotado nas urnas. Em 2010, no último ano do governo Lula, o desemprego ficou
em 5,3%, a inflação foi de 5,9% e o crescimento do PIB foi de 7,5%. A avaliação
de Lula terminou o ano em 80% e ele foi capaz de eleger Dilma.
Igualmente, os eleitores sabem
que os governos municipais cuidam de saúde, educação primária e pavimentação.
São os municípios que controlam os postos de saúde, os programas de saúde da
família (PSF), unidades de pronto atendimento (UPA) e, com muita frequência,
hospitais. No final de 2012, passamos por mais uma eleição municipal. Foi farto
o noticiário que associava as péssimas condições de atendimento da saúde
pública a prefeitos que não foram reeleitos. Os candidatos, por sua vez, fazem
a campanha considerando o que os eleitores percebem e o que está sob seu
controle. Não se veem candidatos em eleições municipais falando de desemprego,
inflação e crescimento econômico. O mais próximo que chegam desses temas diz
respeito à promessa de atrair empresas para o município, com a finalidade de
gerar mais empregos.
Fernando Henrique foi eleito,
pela primeira vez, em função de um tema econômico, a redução da inflação,
graças ao Plano Real. A estabilidade da moeda permitiu que a grande maioria dos
eleitores aumentasse de forma abrupta seu poder de compra. Eis a questão-chave
quando se trata de avaliação presidencial, de avaliação do governo federal:
poder de compra. Quando o poder de compra da população aumenta, melhora a
avaliação do governo federal e de seu principal líder; quando o poder de compra
cai, piora a avaliação do ocupante do Palácio do Planalto. Em 2002, o poder de
compra da população diminuiu muito, em função do aumento do desemprego.
Resultado: a oposição venceu a eleição presidencial.
Lula também foi avaliado em
função do poder de compra da população. Dilma está sendo avaliada
principalmente por essa mesma razão. Veja-se a posição de um eleitor mediano:
sua renda real aumenta e, no decorrer do ano, ele passa a poder comprar coisas
ou pagar por serviços aos quais antes não tinha acesso. Por exemplo, há um
grande contingente de eleitores que entrou em um avião pela primeira vez
durante o governo Dilma. Trata-se de uma melhoria efetiva das condições de vida
e, para muitos que estão passando por isso, essa melhoria está associada à
atuação da presidente Dilma. Bingo: é elevadíssima a probabilidade de que essas
pessoas avaliem o governo Dilma como sendo "ótimo" ou
"bom". Da mesma forma, é elevadíssima a probabilidade de que votem em
Dilma em 2014 se o aumento de poder de compra tiver continuidade.
O mais interessante do atual
cenário é que a aprovação de Dilma é tão elevada quanto era a avaliação de Lula
em seu segundo mandato, em que pese o fato de o crescimento econômico, em 2012,
ter sido bem inferior aos índices de crescimento do segundo mandato de Lula. O
crescimento de 2012 ficará em torno de 1% e a aprovação de Dilma está acima de
60%. Lula teve pouco mais de 60% de aprovação em 2010, ano em que se registrou
um crescimento de 7,5%. O recado é claro: considerando-se as atuais condições,
Dilma não precisa de um crescimento econômico tão elevado para ter a mesma
popularidade de Lula. Mais do que isso, se o alvo for a popularidade
presidencial, pode-se afirmar que Dilma não precisa de elevadas taxas de
crescimento econômico. Ela tem a seu favor a mais baixa taxa de desemprego
desde que o IBGE iniciou a medição da desocupação. Em função das mudanças
demográficas, há menos jovens entrando no mercado. A pressão para gerar novos
postos de trabalho diminuiu muito.
Tudo indica que em 2013 o
crescimento do PIB será maior do que em 2012, e o desemprego continuará caindo.
As previsões mais pessimistas são de que a economia crescerá 3% neste ano. Há
quem preveja 4%. O fato é que, dentro do horizonte previsível, o crescimento,
em 2013, será bem maior do que o do ano que passou. Resultado: a avaliação de
Dilma vai melhorar ainda mais. Combinando-se desemprego em queda e crescimento
em alta, pode-se esperar que Dilma atingirá a marca de 70% de aprovação, na
soma de "ótimo" e "bom", no decorrer do ano.
Nosso sistema político, o
presidencialismo de coalizão, é bastante dependente, para seu bom
funcionamento, de um presidente popular. Deputados e senadores sabem que não se
vota contra um chefe de governo bem avaliado. Quando os deputados voltam para
suas bases políticas, no fim da semana, conversam com aliados políticos,
vereadores e prefeitos que os apoiam e toda sorte de cabos eleitorais. Ouvem
desses aliados, que têm contato permanente com os eleitores, que a presidente
está bem avaliada. Não é uma pesquisa científica, mas é a maneira de pesquisar
dos políticos. Quando voltam a Brasília, não ousam votar contra o governo.
Dilma tem hoje o maior capital
político que qualquer presidente pode ter: a elevada aprovação popular. Não
apenas entra o ano com esse capital, mas tudo indica que ele crescerá. A
popularidade pode cair, mas, para que isso aconteça, serão necessários fatos
novos. Por ora, os fatores de risco são dois. O externo, totalmente fora de
controle, que tem a ver com as crises da Europa e dos Estados Unidos, e o fator
interno, relacionado com a possibilidade de racionamento de energia.
Afirma o ditado que gato
escaldado tem medo de água fria. A história recente do país mostra que os
efeitos recessivos de um racionamento de energia podem ferir de morte o aumento
do poder de compra da população e, consequentemente, a popularidade do
presidente. Isso reforça o que sempre soubemos: na democracia, sempre estaremos
diante da incerteza.
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