sexta-feira, 23 de dezembro de 2011

O que faço se meu chefe errou e culpou a equipe?

Sou coordenador em uma empresa de consultoria. Há dois meses, assumi uma nova área e, em reunião com um importante cliente, meu chefe propôs uma estratégia de trabalho da qual discordei abertamente. Ele, porém, ordenou que continuássemos o projeto e o resultado foi desastroso, motivando o fim do contrato com essa empresa. Ao invés de assumir a culpa, porém, ele responsabilizou a mim e a minha equipe. Estou revoltado, já que precisei acatar uma ordem da qual discordava e estou sendo punido por um erro que não cometi. Quero levar o caso a instâncias superiores, pois temo que minha reputação seja comprometida internamente. Como devo proceder?
Coordenador de projetos, 34 anos;

Resposta:
Essa é uma questão controversa. O que fica evidente é que nenhum dos envolvidos foi tão fundo quanto deveria na análise dos riscos do projeto. Sem dúvida, seu chefe também tem responsabilidade no episódio, pois ele era o gestor e deveria estar comprometido com o resultado da equipe. Mas acho que devemos inicialmente analisar a conduta que você teve. A partir daí poderemos recolher vários aprendizados sobre trabalho em equipe.
Um coordenador de projetos, como você, em situação de conflito, deve evitar polêmicas na presença do cliente. Teria sido melhor apresentar críticas e soluções por caminhos reservados. Você poderia ter atuado com mais discrição e conversado à parte com o gestor para mostrar os riscos que o projeto corria. Discutir decisões é essencial, mas nunca na frente do cliente. Esse constrangimento deve ter sido determinante para seu chefe ter demonstrado tanta convicção. A consultoria ficou exposta, revelando falta de alinhamento no time.
Para evitar expor a equipe, você deveria ter buscado fundamentos para influenciar seu superior. Alinhar alternativas com colegas experientes - mas sem revelar o conflito - também seria uma maneira de fundamentar o seu ponto de vista. Além disso, você não deveria ter deixado para se manifestar quando o projeto estivesse concluído. O gerenciamento existe para impedir situações como essa.

Gerenciar projetos demanda um escopo bem definido, documentado e comunicado à equipe. Inclui acompanhar as atividades em reuniões periódicas com os profissionais envolvidos e decidir sobre possíveis desvios. Em uma gestão eficaz, você teria mais margem para insistir e até mesmo levar o assunto aos dirigentes máximos com alguma chance de sucesso.
Por outro lado, não me parece justo você ficar como a única pessoa a falhar nessa história. Possivelmente, sua organização padece de problemas em várias esferas. Fosse de outra maneira, seu chefe não deixaria a situação chegar a um ponto em que ele próprio ficasse fragilizado - nem você teria ficado à vontade para agir com aquele ímpeto.
Nessas horas, é bom buscar o aconselhamento de quem domina as questões de comportamento, como Patrick Lencioni, autor do célebre livro "Os 5 Desafios das Equipes".
Ele atribui aos gestores modernos cinco tarefas fundamentais: desenvolver a confiança entre os membros do grupo, eliminar o medo de conflitos, promover uma cultura de compromisso com as decisões, criar a disciplina de "accountability" (hábito de cobrança e monitoramento recíprocos) e focar nos resultados.
Os envolvidos nesse episódio tão desconfortável teriam se antecipado e se preparado para as situações-tipo em que poriam à prova (com sucesso) a inteligência emocional e a capacidade de manter sangue frio em situações de tensão.
Como você ainda está na empresa, minha sugestão é que levante todos os fatos e dados documentados e peça uma reunião com os envolvidos para esclarecer de vez a situação. Você deve estar preparado para ser questionado sobre as razões pelas quais não confrontou o chefe reservadamente e não levou o problema para cima. Mais do que isso, você deve apresentar uma estratégia bem feita e um plano com alternativas para recuperar o cliente - o que, ao menos teoricamente, é sempre possível.
Tenha em mente que, nas organizações, nem sempre os fatos mostram tudo. Você deve ficar atento às sutilezas envolvidas no relacionamento dentro das equipes. Esse poderá ser o início de um futuro mais promissor e menos conflituoso.
Karin Parodi é fundadora e sócia-diretora da Career Center e presidente da Arbóra Global Américas.
E-mail diva.executivo@valor.com.br

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