Grupo Tom Brasil Ameaça ir a justiça contra João Gilberto
RIO - João Gilberto pode fechar um ano que deveria ter sido de festa e exaltação, por conta de seus 80 anos de vida, como réu. O Grupo Tom Brasil, que contratou o cantor para realizar dois shows em 2011, promete mover uma ação judicial contra ele ainda neste mês.
Há exatamente um ano — e apesar de não fazer shows desde 2008 —, o pai da bossa nova acertou com o Grupo Tom Brasil dois shows para comemorar seus 80 anos, celebrados em 10 de junho. No contrato, que se estende por quase dez páginas e leva a minúscula assinatura do cantor no pé, também estavam previstas a gravação de um CD e a transmissão do evento ao vivo para outras cidades, além, é claro, da citada multa rescisória
— Aí, no meio do ano, depois de termos assinado o contrato e adiantado meio milhão de reais para o João, fomos pegos de surpresa com a notícia de que ele faria uma turnê semelhante à nossa, mas por cinco cidades, na mesma época do ano, só que com dois produtores baianos — lembra D’Antino. — Decidimos, então, notificar extrajudicialmente todos os envolvidos nessa segunda turnê, alertando para a existência do acordo que João já tinha conosco.
Cheques sem fundo
Dias mais tarde, conta D’Antino, o advogado de João Gilberto, Aloisio Salazar, e o produtor baiano Maurício Pessoa se reuniram com o Grupo Tom Brasil e firmaram um instrumento particular de confissão de dívida com o intuito de dar por encerrada qualquer pendência entre o cantor e as duas contratantes.
— Nesse documento, ficou acertado que o site Ingresso Rápido, responsável pela venda das entradas dos shows que João faria em Porto Alegre e Brasília, nos repassaria a bilheteria dessas duas praças até atingir a cifra que nos era devida. O site concordou, e ficamos tranquilos.
Mas, semanas mais tarde, em novembro, as duas apresentações foram canceladas por força de um atestado médico emitido pelo geriatra do cantor, Jorge Jamili, que dava conta de uma sinusite que afetava as vias aéreas de João Gilberto.
— Foi aí que decidimos depositar os três cheques que Aloisio Salazar nos havia dado como caução no ato da assinatura da confissão de dívida. Um de R$ 382 mil, um de R$ 250 mil e outro de R$ 63,4 mil, com datas entre 30 de setembro e 14 de outubro e assinatura dele. O banco devolveu os três por falta de fundos.
Alegando camaradagem com o "colega que não é especializado em direito do entretenimento", e para evitar que o nome de Salazar vá parar na lista de inadimplentes da Serasa, o Grupo Tom Brasil segurou os cheques e decidiu esperar pelo sucesso de bilheteria dos shows de João em São Paulo e no Rio.
— Na terça, dia 6, nos reunimos com o Aloisio, e ele nos tranquilizou, dizendo que a bilheteria de São Paulo acumulava R$ 900 mil e que a do Rio já passava de R$ 1 milhão, que bastava João subir ao palco — contou D’Antino.
Na tarde de terça-feira, cinco dias antes do início da aguardada turnê dos 80 anos de João, a produtora Claudia Faissol, com quem ele teve uma filha e que vem atuando como empresária, deu entrevistas informando que, devido a seu estado de saúde, o cantor não poderia viajar de avião e que o show de São Paulo estaria cancelado. Claudia não retornou os pedidos de entrevista do GLOBO e não confirmou o cancelamento da apresentação no Rio, cidade em que João vive. O advogado Aloizio Salazar tampouco entrou em contato com a reportagem.
Contactado pela reportagem do GLOBO, o médico Jorge Jamili informou que esteve com João Gilberto no penúltimo fim de semana e que concluiu que "ele não pode sair do quarto", precisa "ficar deitado, descansando e se recuperando".
Sem autorização para divulgar detalhes sobre o mal que aflige um dos maiores ícones da música brasileira, Jamili nega que João Gilberto padeça de qualquer doença debilitante crônica e exclui a possibilidade de interná-lo para exames ou acompanhamento médico.
— João não tem câncer, não tem pneumonia. Sofre de um somatório de problemas físicos e psicossomáticos que o impedem de cumprir os compromissos dessa turnê. Trata-se de um senhor de 80 anos que tem a saúde debilitada, mas não precisa ir a um hospital.
Jamili reforça ainda que, ao contrário do que vem sendo dito, a suposta baixa venda de ingressos (em cidades como Porto Alegre e Brasília) não afetou em nada o quadro clínico ou a disposição de João em subir ao palco.
— No Japão (turnê de 2003), estava tudo lotado e, mesmo assim, eu praticamente tive que acompanhá-lo para que fizesse o show — lembra o geriatra. — Não é correto dizer ou mesmo insinuar que isso o esteja influenciando agora.
— De tudo isso, uma conclusão é clara — enfatiza o advogado Sérgio D’Antino. — Se a equipe que assessora João nessa empreitada trabalhou para encerrar a carreira dele, conseguiu atingir sua meta com êxito. Agora, João só faz outro show por aqui se ele mesmo for para a bilheteria vender entrada.
RIO - João Gilberto pode fechar um ano que deveria ter sido de festa e exaltação, por conta de seus 80 anos de vida, como réu. O Grupo Tom Brasil, que contratou o cantor para realizar dois shows em 2011, promete mover uma ação judicial contra ele ainda neste mês.Desde meados do ano, o grupo espera receber de João a devolução do adiantamento que lhe fez. As apresentações haviam sido anunciadas para novembro — no Vivo Rio e no HSBC Brasil, em São Paulo —, mas jamais aconteceram. O Tom Brasil esperava receber o dinheiro arrecadado pela turnê atual e, com isso, resolver amigavelmente a pendência. Nesta quarta-feira, após dois adiamentos, a turnê que o cantor faria pelo Brasil para comemorar a data foi oficialmente cancelada.
— Se até quinta-feira da semana que vem (dia seguinte ao anunciado show no Rio) não caírem na conta do grupo R$ 695 mil, teremos que cobrar judicialmente essa quantia. Trata-se do adiantamento feito a João em 5 de dezembro de 2010, na assinatura do contrato de dois shows que ele faria conosco em 2011. A cifra inicial, de R$ 500 mil, está devidamente corrigida e somada aos honorários advocatícios. Se ela não for devolvida, seremos obrigados a executar a multa por rescisão contratual, o que está no acordo firmado. São R$ 2 milhões — informou em entrevista ao GLOBO o advogado do Tom Brasil, Sérgio D’Antino, antes da confirmação do cancelamento da turnê.
Há exatamente um ano — e apesar de não fazer shows desde 2008 —, o pai da bossa nova acertou com o Grupo Tom Brasil dois shows para comemorar seus 80 anos, celebrados em 10 de junho. No contrato, que se estende por quase dez páginas e leva a minúscula assinatura do cantor no pé, também estavam previstas a gravação de um CD e a transmissão do evento ao vivo para outras cidades, além, é claro, da citada multa rescisória
— Aí, no meio do ano, depois de termos assinado o contrato e adiantado meio milhão de reais para o João, fomos pegos de surpresa com a notícia de que ele faria uma turnê semelhante à nossa, mas por cinco cidades, na mesma época do ano, só que com dois produtores baianos — lembra D’Antino. — Decidimos, então, notificar extrajudicialmente todos os envolvidos nessa segunda turnê, alertando para a existência do acordo que João já tinha conosco.
Cheques sem fundo
Dias mais tarde, conta D’Antino, o advogado de João Gilberto, Aloisio Salazar, e o produtor baiano Maurício Pessoa se reuniram com o Grupo Tom Brasil e firmaram um instrumento particular de confissão de dívida com o intuito de dar por encerrada qualquer pendência entre o cantor e as duas contratantes.
— Nesse documento, ficou acertado que o site Ingresso Rápido, responsável pela venda das entradas dos shows que João faria em Porto Alegre e Brasília, nos repassaria a bilheteria dessas duas praças até atingir a cifra que nos era devida. O site concordou, e ficamos tranquilos.
Mas, semanas mais tarde, em novembro, as duas apresentações foram canceladas por força de um atestado médico emitido pelo geriatra do cantor, Jorge Jamili, que dava conta de uma sinusite que afetava as vias aéreas de João Gilberto.
— Foi aí que decidimos depositar os três cheques que Aloisio Salazar nos havia dado como caução no ato da assinatura da confissão de dívida. Um de R$ 382 mil, um de R$ 250 mil e outro de R$ 63,4 mil, com datas entre 30 de setembro e 14 de outubro e assinatura dele. O banco devolveu os três por falta de fundos.
Alegando camaradagem com o "colega que não é especializado em direito do entretenimento", e para evitar que o nome de Salazar vá parar na lista de inadimplentes da Serasa, o Grupo Tom Brasil segurou os cheques e decidiu esperar pelo sucesso de bilheteria dos shows de João em São Paulo e no Rio.
— Na terça, dia 6, nos reunimos com o Aloisio, e ele nos tranquilizou, dizendo que a bilheteria de São Paulo acumulava R$ 900 mil e que a do Rio já passava de R$ 1 milhão, que bastava João subir ao palco — contou D’Antino.
Na tarde de terça-feira, cinco dias antes do início da aguardada turnê dos 80 anos de João, a produtora Claudia Faissol, com quem ele teve uma filha e que vem atuando como empresária, deu entrevistas informando que, devido a seu estado de saúde, o cantor não poderia viajar de avião e que o show de São Paulo estaria cancelado. Claudia não retornou os pedidos de entrevista do GLOBO e não confirmou o cancelamento da apresentação no Rio, cidade em que João vive. O advogado Aloizio Salazar tampouco entrou em contato com a reportagem.
Contactado pela reportagem do GLOBO, o médico Jorge Jamili informou que esteve com João Gilberto no penúltimo fim de semana e que concluiu que "ele não pode sair do quarto", precisa "ficar deitado, descansando e se recuperando".
Sem autorização para divulgar detalhes sobre o mal que aflige um dos maiores ícones da música brasileira, Jamili nega que João Gilberto padeça de qualquer doença debilitante crônica e exclui a possibilidade de interná-lo para exames ou acompanhamento médico.
— João não tem câncer, não tem pneumonia. Sofre de um somatório de problemas físicos e psicossomáticos que o impedem de cumprir os compromissos dessa turnê. Trata-se de um senhor de 80 anos que tem a saúde debilitada, mas não precisa ir a um hospital.
Jamili reforça ainda que, ao contrário do que vem sendo dito, a suposta baixa venda de ingressos (em cidades como Porto Alegre e Brasília) não afetou em nada o quadro clínico ou a disposição de João em subir ao palco.
— No Japão (turnê de 2003), estava tudo lotado e, mesmo assim, eu praticamente tive que acompanhá-lo para que fizesse o show — lembra o geriatra. — Não é correto dizer ou mesmo insinuar que isso o esteja influenciando agora.
— De tudo isso, uma conclusão é clara — enfatiza o advogado Sérgio D’Antino. — Se a equipe que assessora João nessa empreitada trabalhou para encerrar a carreira dele, conseguiu atingir sua meta com êxito. Agora, João só faz outro show por aqui se ele mesmo for para a bilheteria vender entrada.
O Globo - Cultura
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