quinta-feira, 29 de dezembro de 2011

Análise: O Irã é quem tem mais a perder se fechar o estreito de Hormuz

NOVA YORK – Seria relativamente fácil para o Irã cumprir a sua ameaça de fechar o estratégico estreito de Hormuz, por onde é escoado o petróleo produzido no Golfo Pérsico, e provavelmente será o mais prejudicado caso tome tal decisão. “O Irã é tão dependente, se não for o mais dependente, do estreito de Hormuz quanto qualquer outro país”, disse Ali Nader, do instituto de pesquisa RAND.

O governo iraniano vem ameaçando bloquear o tráfego de petroleiros pelo estreito se o Ocidente seguir em frente com os planos de impor novas sanções contra o país, incluindo um embargo de petróleo, para pressionar Teerã a abandonar seu suspeito programa nuclear.

O estreito de Hormuz é a rota por onde passam cerca de um terço dos navios petróleo do mundo, de acordo com dados do Departamento de Energia dos Estados Unidos.

“O Irã tem total controle sobre a passagem estratégica”, afirmou o almirante Habibollah Sayari na quarta-feira em entrevista para a estatal Press TV, em meio a dez dias de exercícios da Marinha iraniana em águas internacionais próximas ao estreito. “Fechar o estreito de Hormuz seria muito fácil para as forças navais iranianas”, acrescentou.

Por outro lado, também ontem, a porta-voz da 5ª Frota Naval dos Estados Unidos afirmou que o “livre fluxo de bens e serviços através do estreito de Hormuz é vital para a prosperidade regional e global”. Portanto, “qualquer bloqueio não será tolerado” pelos Estados Unidos, acrescentou.

FRAGILIDADE
Autoridades americanas e especialistas estrangeiros reconhecem que o Irã pode bloquear o estreito, pelo menos temporariamente. Em depoimento ao Congresso americano em março, o diretor da agência de inteligência da Defesa, o tenente-general do Exército Ronald Burgess disse que o Irã está expandindo suas bases navais no Golfo Pérsico, o que permitiria ao país “tentar bloquear o estreito de Hormuz temporariamente” durante uma crise.

Mas se o Irã tomar tal rumo será mais prejudicado do que seus adversários. A economia do Irã está frágil, assim como o apoio popular aos clérigos que governam o país, disse Nader.

Segundo dados do Departamento de Energia dos Estados Unidos, em 2010 as exportações de petróleo do Irã renderam aproximadamente US$ 73 bilhões. O petróleo bruto e seus derivados respondem por quase 80% das exportações totais do Irã, sendo que as vendas externas da commodity representam metade da receita do governo.

O melhor cliente do Irã é a China, que respondeu por 22% das exportações de petróleo iraniano durante o primeiro semestre deste ano e é membro com direito a veto no Conselho de Segurança das Nações Unidas e uma das poucas nações amigas da República Islâmica.

A China obtém 11% do petróleo que importa do Irã, que também forneceu 51% do petróleo importado pela Turquia – um país membro da Otan, aliança militar do Ocidente, e que partilha com o Irã fronteira e antipatia pelos separatistas curdos – no primeiro semestre deste ano.

Se Teerã ousar fechar o estreito de Hormuz, mesmo que brevemente, vai prejudicar a Arábia Saudita, o Iraque e outros exportadores de petróleo do Golfo Pérsico, embora os sauditas também escoem a sua produção através do Mar Vermelho.

Mas todas as exportações do Irã, e grande parte de suas importações de gasolina, alimentos e bens de consumo, são transportados através do estreito. O principal terminal de petróleo iraniano, na ilha de Kharg, que tem capacidade de embarcar 5 milhões de barris por dia e de estocar mais de 30 milhões de barris, fica no Golfo Pérsico. Assim como seu segundo maior terminal de exportação, localizado na ilha Lavan, com capacidade de estocar 5 milhões de barris e de embarcar 200 mil barris por dia.

TENSÃO EM ALTA

Porém, as ameaças do Irã de fechar o estreito são apenas o início do que pode ser um período de cinco a dez anos de simulações, ataques e crescente tensão no Golfo, na opinião de Anthony Cordesman, analista do Centro para Estudos Estratégicos e Internacionais em Washington. Isso pode exigir que os Estados Unidos mudem sua postura militar na região do Golfo Pérsico em um momento que o país enfrenta uma crescente pressão sobre o orçamento e a administração do presidente Barack Obama sinaliza a sua intenção de se concentrar mais na região do Pacífico, disse Cordesman.

“Fechar o estreito de Hormuz é realmente um exercício na retórica”, disse Cordesman. Com os canais de navegação passando por ilhas iranianas, minas flutuantes, pequenos navios e mísseis, podem bloquear o tráfego de navios ou elevar o prêmio risco tão alto que as taxas de seguro podem sozinhas elevar o custo do petróleo ou interromper a navegação, acrescentou.

Uma guerra também teria custos muito altos para o Irã, pelo menos até que seu programa de armas nucleares produza artefatos suficientes para produzir um poder de dissuasão crível, avalia Cordesman. “Passamos por muita coisa no Golfo, onde nada cresceu ou desencadeou em um grande conflito”, disse. “Quando você eleva os preços do petróleo ao fazer com que os perroleiros paguem prêmios maiores às seguradoras, isso foge ao seu controle, mas a questão é o quanto... Você tem de ser muito cuidadoso em dar sequência às declarações iranianas, que também são agressivas para presumir que estamos no meio de uma crise, que ainda não existe”, acrescentou.

Porém, a potencial preocupação atual é que um Irã que se sente ameaçado por sanções mais duras do Ocidente, pela revolta popular na vizinha e aliada Síria e pela rebelião geral contra governos autocratas em outras partes do Oriente Médio, pode errar no cálculo e desencadear um conflito que não interessa a ninguém, segundo Ali Nader, do instituto de pesquisa RAND.

(Bloomberg)

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