13 de Maio: abolição da escravatura sem o resgate da dívida social com os negros
Sul21
Após 124 anos da abolição da escravatura no Brasil o martírio dos negros
ainda não teve fim. O Brasil foi o último país do mundo a abolir a escravidão
negra e, mesmo assim, o fez de forma incompleta. Visando não criar impactos
profundos na produção agrícola e não diminuir os lucros dos proprietários, a
abolição se fez por etapas. Sem se preocupar em criar condições de sobrevivência
para os recém-libertos, a abolição não foi acompanhada da geração de opções de
trabalho e renda.
Por pressão da Inglaterra, que dominava os mares e o comércio internacional e
necessitava do assalariamento dos trabalhadores para a expansão do seu mercado
de consumo, foi proibido o tráfico negreiro. Depois, foram libertos os
recém-nascidos, que eram numerosos e precisavam ser mantidos até por volta dos
sete anos de vida, quando começavam a trabalhar. Em seguida, foi abolida a
escravidão dos sexagenários, que eram pouquíssimos, pois a imensa maioria morria
cedo consumida pelo trabalho degradante e as péssimas condições de vida a que
eram submetidos, mas constituíam peso morto e geravam despesas para os
“senhores”.
Sem instrução, sem treinamento para as novas formas de trabalho e, sobretudo,
sem receber terras onde pudessem exercer a principal atividade produtiva a que
se dedicavam, os negros libertos foram entregues à própria sorte. Ficaram, na
imensa maioria das vezes, trabalhando sem remuneração para os mesmos antigos
senhores ou foram expulsos das propriedades onde serviam. Muitos passaram a
perambular pelas estradas e ruas, sendo acusados de serem “indolentes”, “avessos
ao trabalho”, “capoeiristas”, “lundusistas”, “sambistas” e “malandros”.
Não se fez o que os autênticos abolicionistas reivindicavam, ou seja, uma
reforma agrária que garantisse terras aos negros libertos e a possibilidade de
seu cultivo para que gerassem renda e desenvolvimento. O resultado foi a
transformação da quase totalidade dos antigos escravos em novos miseráveis.
Tornaram-se cidadãos de segunda ou de terceira classe. Para se ter uma ideia do
abismo social-racial existente no Brasil, basta que se constate que o nível de
escolaridade dos negros brasileiros era inferior, no início do século XXI, ao
nível dos negros sul-africanos no final do apartheid.
A dívida social com os negros brasileiros perdura ainda hoje. O Censo
Demográfico de 2010 apurou que dos 16 milhões de brasileiros que vivem em
situação de extrema pobreza (com renda mensal de até R$ 70,00) 11,5 milhões, ou
seja, 72% do total são pardos e negros. Os dados estatísticos não deixam dúvida
sobre a dívida social com os negros no Brasil: se verificam entre eles os mais
altos índices de analfabetismo, desemprego, mortalidade infantil e entre jovens,
violência, entre outros.
O Brasil tem avançado no resgate desta dívida social, por exemplo, com a
adoção de cotas raciais nas universidades públicas, com a definição da
discriminação racial como crime inafiançável e com a criação de programas de
distribuição de renda e de apoio às famílias em situação de vulnerabilidade
social. Há muito, no entanto, a ser feito e seria bom que todos nós,
independente de nossas etnias, nos uníssemos para quitar, no menor tempo
possível, o débito que ainda perdura.
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