quinta-feira, 19 de abril de 2012

E a classe C incomoda muita gente
Sul 21

Um dos textos mais bobos publicados na imprensa brasileira nos últimos tempos, o artigo “Sobre a Classe Média” de Artur Xexéo na revista do Globo do último domingo já chegou às redes sociais. Nele, Xexéo reclama do incômodo que a ascensão da classe C está causando em quem, como ele, representa a “Velha Classe Média”. É um artigo leve; é preciso lembrar que um caso bizarro como o do Ed Motta reclamando de gente feia é a exceção, que em suas melhores encarnações aquela classe média de Ipanema-Leblon é doce, tranquilinha e sorridente. O texto do Xexéo traz isso, essa condescendência e essa suavidade que mascaram um grande preconceito e um enorme incômodo da Velha Classe Média ao se ver diante de ex-pobres nos mesmos lugares que ela.

Talvez o aeroporto seja o lugar onde as frustrações e o desconforto da velha classe média sejam mais evidentes. É altamente simbólico, isso. O aeroporto era um dos lugares em que a pequena burguesia, para usar termos antigos como a Velha Classe Média, se sentia superior à patuleia e mais próxima dos ricos. Porque pobre paulista, por exemplo, não ia para Porto Seguro de avião; pegava um ônibus para Pindamonhangaba no Terminal do Tietê e passava uns dias na casa de uma irmã. A ascensão social das duas classes mudou isso: para Porto Seguro agora vão os ex-pobres, enquanto a Velha Classe Média passa uns dias na Europa todo santo ano.

O problema é que tem mais gente no aeroporto, as filas aumentaram, aquele povo mais feio ocupa atravanca o diacho do aeroporto. No entanto não dá para reclamar disso, porque cá entre nós ficaria muito feio, é quase como reclamar de preto no mesmo clube que você.

Aí a classe média reclama dos cereais nos aviões.

Rafael Galvão

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