Articulação acelera votação da obrigatoriedade do diploma para jornalista
Sul 21 - Rachel Duarte
Sul 21 - Rachel Duarte
Esperada para ocorrer no dia 7 de abril, Dia do Jornalista, a votação da PEC
33/09, que restabelece a exigência do diploma para o exercício da profissão,
pode ocorrer até a próxima semana. Uma articulação política envolvendo
parlamentares defensores da formação de jornalistas e a Federação Nacional dos
Jornalistas (FENAJ) tem como finalidade conseguir a apreciação da proposta em
segundo turno no Senado Federal. “Estamos conversando com a senadora Marta
Suplicy (PT-SP), que está no lugar do presidente José Sarney (PMDB-AP) para ver
se ela pode colocar a PEC em votação”, diz o presidente da FENAJ, Celso
Schroder, que está em Brasília nesta quinta-feira (19) para tratar do tema.
De autoria do senador Antonio Carlos Valadares (PSB-SE), a proposta foi
aprovada em primeiro turno em novembro de 2011, com 65 votos favoráveis e 7
contra. Apesar do resultado quase unânime, o presidente da Casa, José Sarney,
licenciado por motivos médicos, já assumiu publicamente posição contrária a
exigência do diploma. O ex-presidente da República é titular do registro
profissional número 62, emitido pela Delegacia Regional do Trabalho do Maranhão,
em 19/1/1950, onde exerceu a atividade de jornalista. Com a ausência de Sarney
nos próximos 15 dias, há pressa na votação da PEC. “Já conversamos com os
líderes e temos conversas sistemáticas com o autor e o relator da proposta.
Estamos prevendo conseguir colocar em votação nesta semana ou na próxima”,
confirma o presidente da FENAJ.
“Estimamos não encontrar dificuldades, já que no primeiro turno aprovamos por
unanimidade. Mobilizamos os senadores do bloco de apoio ao governo que está
pronto para fazer isto da forma mais rápida possível. Precisamos devolver para a
categoria o que lhe foi retirado. A gente entende a necessidade de um diploma.
Temos que diferenciar o que são comentaristas, articulistas e jornalistas”,
prevê a senadora Vanessa Graziottin (PCdoB-AM).
Com a aprovação da PEC no Senado, o texto vai para a Câmara Federal. Entre os
deputados, a dificuldade poderá ser maior, já que outra proposta neste sentido
ainda não teve nem perto de ser apreciada. De autoria do deputado Paulo Pimenta
(PT-RS), a PEC 386/09, diferencia o conceito sobre liberdade de expressão dá
necessidade de formação para o exercício do jornalismo. “O presidente Marco Maia
disse que precisa de uma mobilização da categoria, das entidades, universidades
e defensores do diploma para se sentir mais à vontade para colocar a PEC em
pauta”, admitiu Pimenta.
A Fenaj está encarregada desta tarefa e organiza a mobilização em território
nacional. “Temos um grupo que está atuando com as universidades e sindicatos.
Também estamos fazendo contatos com senadores e deputados. Queremos ter uma
votação a do primeiro turno no Senado para dar força ao trâmite na Câmara. Até
porque, se não conseguirmos colocar em votação até julho, dificilmente vamos
aprovar este ano”, estima Celso Schroder.
Hoje qualquer pessoa pode obter registro de jornalista
As duas propostas de lei que tramitam no Congresso Nacional foram
apresentadas assim que o Supremo Tribunal Federal (STF) decidiu pela derrubada
da necessidade de diploma para o exercício da atividade jornalística no Brasil.
“O que todos não falam é que a origem desta votação no STF se deu por uma
disputa judicial em São Paulo, depois que o Ministério do Trabalho entrou com
ação contra a Folha de São Paulo por contratação de auxiliares administrativos
como jornalistas. O ministro Gilmar Mendes, que foi o relator e votou contra a
exigência do diploma entendeu que exigir diploma feria o princípio
constitucional do direito à liberdade de expressão”, explica Paulo Pimenta.
O parlamentar afirma discordar frontalmente da opinião de Gilmar Mendes, por
entender que, o objetivo do Artigo 220 da Constituição Federal foi mal
interpretado. “Na Constituinte foi criado este artigo para garantir a liberdade
de expressão durante o regime militar onde havia muita censura. Nunca por causar
qualquer obrigação à formação de jornalistas. A liberdade de expressão não
aumentou depois da queda do diploma. O que mudou foram as relações de trabalho
da categoria. Hoje empresas assinam carteira pagando menos que o piso e
contratando pessoas com qualquer formação para estar nas redações”, fala.
O Brasil tem aproximadamente umas cem mil pessoas portadoras de registro
profissional de jornalista. Pelo menos mais da metade deste contingente estudou
pelo menos quatro anos nas faculdades de Jornalismo para poder aceder a este
direito. Depois da decisão do Supremo Tribunal Federal, confundindo direito de
opinião com a capacidade de investigar, entrevistar, colher, editar e divulgar
informações, qualquer pessoa pode pedir registro de jornalista juntos ao
Ministério do Trabalho. “Dois analfabetos solicitaram registro em Minas Gerais e
dois auxiliares administrativos foram contratados pela Folha de São Paulo”, cita
o deputado Pimenta.
“Se não precisa de diploma, pra que ter o curso de Jornalismo nas
universidades? Os empregadores podem contratar pagando mais barato e não o piso
qualquer profissional assim”, critica a senadora Vanessa. A senadora observou,
ainda, que quando o jornalista escreve, ele não o faz somente porque tem curso
superior, mas também sob a responsabilidade de formar para a cidadania. No
entender da senadora, o STF cometeu uma “grande injustiça” e deu um “duro golpe”
na liberdade de imprensa ao dispensar a obrigatoriedade do diploma. “Utilizar o
poder da caneta ou do teclado é tarefa que serve a vários interesses. Sem a
formação, a massa de manobra fica ainda maior. Há uma margem para exploração
ideológica dos profissionais”, defende.
“Não há nenhuma manifestação do STF sobre o monopólio da
comunicação”, diz FENAJ
Na avaliação do presidente da Fenaj, Celso Schroder, a pressa na aprovação
das PECs irá evitar danos maiores para o jornalismo no Brasil. Ele acredita que
a tese da liberdade de expressão não será novamente levantada pelo Supremo
Tribunal Federal. “Isto foi superado. A decisão pelo fim da obrigatoriedade
suscitou o debate na sociedade e hoje está claro na opinião pública que retirar
uma formação, seja em qual área for não melhora qualquer atividade profissional.
As empresas de comunicação de São Paulo não estão encontrando espaço no
Congresso para emplacar esta tese”, afirma.
Ele cita como fatores positivos da discussão sobre a exigência do diploma, a
atenção para outros pontos importantes para a regulamentação da profissão dos
jornalistas. “Conseguimos colocar a pauta da ampliação do piso e o projeto de
lei do deputado Protógenes Queiroz para instituir a Federação dos Crimes contra
Jornalistas”, fala. E sugere ao judiciário se preocupar com outros debates
importantes a cerca da democratização da comunicação, como o Marco Regulatório
para quebrar os monopólios das grandes empresas brasileiras. “Neste sentido não
há nenhuma manifestação do STF, por exemplo”, diz.
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