terça-feira, 9 de agosto de 2011

Precauções numa crise nada desprezível

O inédito rebaixamento dos títulos da dívida americana, de triplo para duplo "A+" , foi recebido com irritação pela Casa Branca. Para a Secretaria do Tesouro, a agência Standard & Poor's teria cometido um erro grosseiro ao desconsiderar US$ 2 trilhões no cálculo de redução de despesas acertada no pacote de ampliação do teto do endividamento público do país.

Já o presidente Barack Obama, no pronunciamento feito ontem enquanto os mercados desabavam ao redor do mundo, disse que os Estados Unidos não precisam que uma agência de risco lhes diga da necessidade de ter um orçamento equilibrado. "Não importa o que alguma agência possa dizer, nós sempre fomos e sempre seremos um país AAA", declarou.

Mas o dia foi mesmo de quedas vertiginosas. Quando Obama começou falar, na Casa Branca, Wall Street acumulava perdas de mais de 3%. Fechou com menos 5,5%. A Ásia já havia encerrado os negócios também com retrações. A Europa seguiu a tendência, e a Bovespa, no Brasil, caiu 8,08%, tendo chegado a retroceder 9,74%.

Não pode ser considerada uma hipótese realista que os Estados Unidos venham a dar um calote no mundo. Mas os mercados oscilam em cima de expectativas, mesmo as menos prováveis.

O dia em Wall Street ficou mais tenso com a notícia de que a seguradora AIG, estatizada no estouro da crise das hipotecas, no final de 2008, processará o Bank of America. A seguradora deseja recuperar mais de US$ 10 bilhões dos US$ 20 bilhões perdidos na operação com hipotecas subprime, reempacotadas por bancos e negociadas como se fossem investimentos seguros. A AIG reclama ter sido enganada pelo Bank of America. O resultado é que as ações da instituição financeira caíram 23%.

O histórico rebaixamento da dívida americana, anunciado sexta-feira, agravou o pessimismo existente com a situação da Europa, esta de fato preocupante. Nem mesmo o anúncio do Banco Central europeu, feito sexta, de que passaria a comprar títulos das dívidas italiana e espanhola acalmou os mercados no continente. Índices das bolsas francesa e alemã caíram mais de 20% em relação ao seu pico. Apesar de o BC europeu ter aplicado bilhões de euros na compra de papéis de dívida.

No Brasil, a presidente Dilma deu a declaração de praxe sobre a "sólida" posição do país, mas esclareceu que isso não significa nos colocar imunes à crise. Sem dúvida, mesmo que as reservas estejam acima de US$ 300 bilhões.
Termômetro sensível, a taxa do dólar subiu 1,96%, para R$ 1,6125. Desde 24 de junho, a moeda não ficava acima de R$ 1,60, na maior alta diária depois de maio de 2010. O bom-senso aconselha cautela redobrada do governo brasileiro, com destaque para o lado fiscal da economia, talvez o ponto de maior fragilidade do país.

Reduzir para valer os gastos em custeio é uma medida de segurança diante da possibilidade crescente de haver algum impacto mais forte proveniente do exterior. Não se pode deixar de lado que a inflação está numa faixa de alto risco, ao contrário do momento em que eclodiu a crise em 2008. Ser conservador na política fiscal é o mais indicado para uma fase de maior turbulência mundial.

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