quinta-feira, 6 de dezembro de 2012

O novo formato da economia chinesa


A transição de poder na China neste ano atraiu a atenção internacional, tendo em vista a importância do país para o mundo. O mais importante, no entanto, é o fato de que as transformações estratégicas atualmente em andamento no país parecem encaminhadas a influenciar seu padrão futuro de expansão.
Durante 30 anos, os dividendos da decisão inicial de Deng Xiaoping de abrir a economia da China às forças de mercado e ao mundo alimentaram forte crescimento. Até recentemente, a chave era a vasta oferta de mão de obra de baixo custo na China, o que serviu de base para o modelo econômico chinês, voltado às exportações.
Concentrado no litoral da China, esse modelo resultou em uma distribuição desequilibrada da produção e estabeleceu um padrão único de alta poupança e baixo consumo. De fato, a taxa de poupança na China aumentou de forma constante desde o início das reformas de mercado, de 38% para 51% do Produto Interno Bruto (PIB) entre 1978 e 2007.
A meta de dobrar a renda familiar até 2020 - traçada no 18º Congresso do Partido Comunista em novembro - deverá liberar 64 trilhões de yuans (US$ 10,3 trilhões) em poder de compra, com o mercado interno chinês como novo motor para o crescimento
O crescimento da economia não é determinado apenas por fatores da produção, como trabalho, capital e tecnologia, mas também por planos institucionais. Ao longo de 30 anos de reforma, a China conclui com êxito a transição institucional, passando de uma economia com alto planejamento centralizado para um sistema dinâmico baseado no mercado. Começando pela administração rural categorizada e baseada em contratos familiares, os reformistas chineses suplementaram o controle público com várias outras formas, sendo que o mercado cada vez mais desempenhou seu papel fundamental de distribuir recursos, sob o controle macroeconômico do Estado.
A reforma coincidiu com uma globalização cada vez maior, o que liberou forças que reestruturaram não apenas a indústria chinesa, mas também processos de produção por todo o mundo, com a China desafiando atividades industriais que estavam consolidadas e se tornando parte das cadeias de fornecimento globais.
A terceirização maciça, por parte das economias desenvolvidas, de atividades industriais tradicionais, de indústrias de alta tecnologia e até de alguns serviços de baixo custo trouxe oportunidades empolgantes para mercados emergentes que, como a China, tinham vantagens de custo e de recursos, forte potencial de mercado e capacidade de apoio à indústria.
Hoje, contudo, o poder catalisador das mudanças iniciais de Deng se esvaiu diante de salários mais altos, do enfraquecimento da demanda externa e da maior concorrência contra outras economias emergentes, uma combinação de fatores que vem indicando a exaustação do modelo de crescimento baseado em exportações e investimentos. Em particular, a crise financeira mundial de 2008 e a subsequente crise das dívidas da região do euro obrigaram as autoridades chinesas a preparar um novo rumo para o crescimento futuro.
Ainda mais importante, o crescimento baseado nas exportações precisa dar lugar a um que seja impulsionado por motores econômicos domésticos. Isso implica a necessidade de atualizar a estrutura industrial da China, acelerar a formação de capital humano, facilitar o progresso tecnológico e promover mais reformas institucionais.
É provável que essa agenda, caso levada adiante com sucesso, reverta os padrões mundiais de consumo e poupança1 que sustentaram grandes desequilíbrios nos últimos anos. Nesse quadro, a China é responsável pelo lado da poupança, enquanto os Estados Unidos, de forma desproporcional, são responsáveis pelo lado do consumo, o que no fim das contas transforma os chineses em credores dos americanos.
Os padrões mundiais de poupança e consumo, é claro, passaram por mudanças significativas desde a crise financeira, com tanto o Ocidente como a China tentando restaurar o equilíbrio interno. A meta de dobrar a renda média familiar até 2020 - traçada no 18º Congresso do Partido Comunista em novembro - deverá liberar 64 trilhões de yuans (US$ 10,3 trilhões) em poder de compra, com o imenso mercado interno chinês gradualmente tornando-se um novo motor de longo prazo para o crescimento doméstico e internacional.
Esse modelo pressupõe que a China vai desenvolver capital doméstico, em vez de simplesmente depender dos investimentos externos. Sem dúvida, a capacidade de atrair e absorver financiamento externo foi um motivo importante para a rápida industrialização, orientação ao mercado e integração à economia mundial da China. Há 30 anos, essa era a opção estratégica mais prática e eficiente para a China, por sua falta de capital e de tecnologia avançada.
Mas o desenvolvimento econômico de um país, no fim das contas, depende de sua capacidade de acumular capital e distribuí-lo com eficiência. Com 90 trilhões de yuans em ativos bancários e US$ 3,2 trilhões em reservas internacionais, a China agora desempenha um papel significativo nas finanças mundiais. Ainda assim, o alto volume e a baixa qualidade desses ativos também representam desafios à capacidade do país de concluir a transição de uma potência comercial para uma potência financeira e, portanto, de explorar as vantagens competitivas do capital chinês.
Depois de 30 anos de crescimento em uma escala sem precedentes na história, os novos líderes da China deparam-se com um momento decisivo histórico. O grau de sucesso da China em mudar seu modelo econômico vai, em última análise, determinar suas perspectivas não apenas de continuar em expansão, mas também de continuar com estabilidade. (Tradução de Sabino Ahumada)

Zhang Monan - Valor Econômico


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