Por que os ricos se tornam - e permanecem - ricos
Ganhos com
salário não chegam a 10% entre as fontes de renda que compõe o rendimento dos
endinheirados

Ganhos com
salário não chegam a 10% entre as fontes de renda que compõe o rendimento dos
endinheirados
São Paulo – Trabalhar duro, economizar e guardar dinheiro embaixo
do colchão. A receita idealizada para o enriquecimento pode até ter funcionado
em tempos mais remotos ou para personagens fictícios, como o Tio Patinhas. Mas
fato é que não é o seu salário – nem sua “pão-durice” – que deixam você mais
rico. Ou pelo menos não só ou não principalmente.
O relatório de estatísticas mais
atualizadas das declarações de imposto de renda dos 400 indivíduos mais ricos
dos EUA, divulgado recentemente pela Receita Federal Americana, mostra
que os ganhos de capital – a valorização de seus ativos – são a principal fonte
de riqueza dos homens e mulheres endinheirados. E que a renda salarial
propriamente dita não chega nem a 10% de seus rendimentos. As proporções eram
mais ou menos assim em 2009, data da última atualização:
Salários: 8,6%
Juros: 6,6%
Dividendos: 13%
Sociedades e corporações: 19,9%
Ganhos de capital: 45,8%
Juros: 6,6%
Dividendos: 13%
Sociedades e corporações: 19,9%
Ganhos de capital: 45,8%
Tudo bem que essas 400 pessoas tiveram
um ganho médio de 202,4 milhões de dólares naquele ano, o que está bem distante
da realidade da maioria das pessoas. Mas é possível tirar algumas lições deste
mapa. E não é nada contra o trabalho assalariado ou um comportamento de consumo
econômico; mas sim a noção de que um “algo a mais” é fundamental para de fato
multiplicar o patrimônio. Veja algumas dessas lições:
1. Você precisa ter estoque de capital
A primeira coisa que se pode imaginar a
partir dos números divulgados pela Receita americana é que os endinheirados têm
uma boa parcela do seu patrimônio investida em atividades produtivas ou ativos
financeiros que geram renda. Mas para chegar a esse ponto é preciso gastar bem
menos do que você ganha e ter um belo estoque de capital.
Se você não herdou uma fortuna, deve
saber que é preciso construir esse estoque. Pode ser que hoje o seu orçamento
seja totalmente consumido em despesas, mas é fundamental fazer um esforço
consciente para que haja uma sobra. “A primeira coisa é a crença: o pobre está
sempre pensando que a riqueza um dia virá; quem ficou rico acredita que riqueza
se constrói”, diz o consultor financeiro e gerente geral do Instituto Nacional
dos Investidores (INI) Mauro Calil.
O mais indicado, no
entanto, não é poupar o que sobra no fim do mês, mas sim fazer com que o
dinheiro da poupança seja o primeiro a sair dos seus rendimentos todo mês.
“Depois de fazer sua planilha de gastos para controlar para onde o dinheiro vai
e o que pode ser cortado, é preciso começar a poupar como se estivesse pagando
prestações. O dinheiro deve ser o primeiro a sair da conta, que sejam 100
reais”, diz Bolívar Godinho, professor do laboratório de finanças da Fundação Instituto
de Administração (FIA).
Mas como sair de um orçamento justo
para um orçamento com folga? “Você começa poupando 1% da renda no primeiro mês,
2% no segundo mês, e assim por diante, até chegar a 10% no décimo mês. É um bom
percentual para começar”, orienta Mauro Calil.
É claro que essa é uma orientação para
quem ainda tem uma renda baixa em comparação ao custo de vida, mas espera
aumentar os ganhos com o passar dos anos. Em geral, jovens recém-formados que
já moram sozinhos se veem nesta situação. Mas se você ainda mora com os pais,
mesmo sendo jovem, tem uma capacidade de poupança muito maior. “Poupe no mínimo
50% do que você ganha. Mas o ideal mesmo seria 80%, 90%, porque seu único
compromisso, nesta situação, é a ‘balada’”, brinca Calil.
2. Trabalhar é preciso
À exceção daqueles que herdam uma
verdadeira fortuna, quem construiu a riqueza do zero ou de um ponto de partida
mais modesto trabalhou sim, e muito, para chegar aonde chegou. Claro que aí
também entram questões como o nível educacional, a criatividade para ter ideias
com potencial de sucesso, a habilidade para farejar bons negócios e, por que
não, uma boa dose de sorte. “Em geral, o milionário vai ficando milionário. Ele
não para de trabalhar para curtir a vida”, observa Mauro Calil.
O seu salário é o seu instrumento no
processo de enriquecimento. Pode ser que, no caso dos milionários, o salário
corresponda a uma parte muito modesta da renda; mas para chegar ao nível de ter
uma carteira de investimentos de tanta qualidade que a maior parte da renda
venha dela, é do salário que você precisa partir. “A pessoa que tem mais chance
de ficar milionária é a assalariada, porque ela tem uma receita recorrente, o
que facilita o planejamento financeiro. O empresário, na verdade, corre um
risco alto. A maioria dos empresários têm negócios pequenos”, lembra o
consultor.
3. Seja empreendedor e aumente a sua
renda
Quase 20% da renda dos milionários
americanos vêm de seus negócios e participações em sociedades. Ter uma grande
ideia de negócio e fazê-lo ser bem sucedido sem dúvida é uma maneira de ter
lucros expressivos em um tempo muitas vezes mais curto do que aquele despendido
para multiplicar o patrimônio apenas com aplicações financeiras. Mas isso não
significa que, para enriquecer, seja preciso necessariamente abrir o próprio
negócio.
O que é necessário é empreendedorismo.
E por empreendedorismo se entende buscar maneiras de aumentar a sua renda que
não apenas por meio de aplicações financeiras. Se a sua intenção não é abrir um
negócio próprio, você pode continuar recebendo salário, mas investir na sua
qualificação profissional ou mesmo buscar fontes
alternativas de renda, baseando-se nos seus talentos e interesses
pessoais e profissionais.
Aumentar a renda por
meio da ampliação de suas atividades também ajuda a aumentar a folga no
orçamento e, consequentemente, a quantia investida em aplicações financeiras
geradoras de mais renda. Por mais que seu padrão de consumo também cresça
quando a sua renda aumenta, ele não precisa crescer à mesma proporção. Quem
ganha mais também pode poupar mais.
“É que algumas coisas têm o mesmo custo
para todo mundo. Um prato de arroz com feijão custa o mesmo para o rico e para
o pobre, mas o peso desse custo no salário mais baixo é muito maior”, observa
Mauro Calil. Da mesma forma, só porque você ganha mais não quer dizer que você
vai aumentar expressivamente seu consumo de alimentos ou geladeiras.
4. Seja frugal de acordo com o seu
nível de renda
Seguindo a lógica da formação de um
estoque gerador de renda, mantenha o seu padrão de consumo sempre um ou dois
degraus abaixo da sua renda. Isso não quer dizer que você não pode comprar um
carro importado ou que deva viver a pão e água. Quer dizer apenas que, para ter
um carro importado, o custo desse bem tem que encaixar no seu orçamento de
maneira tal que ainda sobre um bom tanto para continuar investindo no que gera
renda.
Mesmo que tem uma alta renda não deve
consumir de maneira estúpida. Quem enriquece muitas vezes se esquece de que
qualquer compra – da mais cara à mais barata – deve apresentar boa relação
custo-benefício e ser um gerador de felicidade duradoura para o consumidor. Leia mais sobre
as bobagens que as pessoas fazem com o dinheiro.
5. Turbine sua rentabilidade e
diversifique
Ao conseguir gerar um estoque de
riqueza, o poupador está pronto para investir. O primeiro passo é sair da
caderneta de poupança – mais indicada para objetivos de curto prazo, até um
ano, por exemplo – e buscar investimentos mais sofisticados, que possam
simplesmente gerar renda ou, em casos de prazo mais longo, também se valorizar.
É claro que a aplicação mais adequada
vai depender do seu objetivo. Fazer uma viagem no fim do ano exige bem menos
malabarismos e sofisticação do que comprar um imóvel daqui a alguns anos ou
mesmo se aposentar. Esses últimos casos permitem aplicações menos líquidas e
com mais risco de volatilidade, como imóveis, fundos imobiliários, títulos
públicos atrelados à inflação ou ações, enquanto o primeiro caso vai depender
da renda fixa conservadora mesmo.
“A máxima que vale é a da relação
risco-retorno. Quando você se depara com um negócio de retorno extraordinário,
o risco também será extraordinário. Muitas vezes é difícil enxergá-lo ou
mensurá-lo, mas não quer dizer que ele não exista”, diz Samy Dana, professor da
FGV-SP. Mas se tem uma lição que se pode aprender com os ricos na hora de
investir é que, além de buscar bons negócios, é preciso diversificar quando o
seu estoque de riqueza permitir, justamente para reduzir os riscos e evitar
ficar pobre da noite para o dia.
“Quem tem dinheiro e
sabe mantê-lo investe algo como 10% de sua renda em uma empresa, de modo que se
o negócio der errado, a pessoa perdeu apenas 10% do salário. Se der certo, a
pessoa dobra sua renda daqui a três, quatro ou cinco anos”, observa o consultor
Mauro Calil, lembrando que dá para fazer uma analogia com o investimento em
ações, por exemplo.
Julia Wiltgen, de 
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