Em sua primeira participação como presidente no Fórum Social Mundial Temático, Dilma Rousseff empolgou a plateia de movimentos sociais com um discurso contra o neoliberalismo, com elogios ao fortalecimento dos países latino-americanos e a favor do Estado da Palestina. A presidente foi interrompida por palmas ao discursar para uma plateia esvaziada no ginásio Gigantinho, em Porto Alegre, ontem à noite. Durante todo o discurso, Dilma fez comparações entre o avanço dos países em desenvolvimento, da América Latina e África, e o retrocesso das nações desenvolvidas.
"A dissonância entre a voz dos mercados e a voz das ruas parece aumentar cada vez mais nos países desenvolvidos, colocando em risco não apenas conquistas sociais, mas a própria democracia", disse. "O mundo do pós-neoliberalismo não pode ser o mundo da pós-democracia", declarou a presidente, recebendo palmas em seguida. Menos da metade das arquibancadas do Gigantinho, com capacidade para 15 mil pessoas, estava cheia.
A presidente disse que o neoliberalismo, imposto por "preconceitos políticos e ideológicos" nos anos 1980 e 1990 na América Latina, levou aqueles países à estagnação e à redução da democracia, "aprofundando a pobreza, o desemprego e a exclusão social". Segundo Dilma, esse modelo econômico "conservador" e excludente está sendo retomado pelos países em crise econômica. "Hoje essas receitas fracassadas estão sendo propostas novamente na Europa", disse. "Não é fácil produzir novas ideias e alternativas quando estamos dominados por preconceitos políticos e ideológicos", afirmou.
Ao discursar para movimentos sociais, em plateia com forte presença de sindicalistas, a presidente comentou que as soluções buscadas pelos países desenvolvidos para combater a crise econômica têm consequências sociais e ambientais nefastas e trazem "perigosas ameaças", como o "desemprego, a xenofobia e o autoritarismo, a paralisia no enfrentamento do aquecimento global além de ameaças à paz mundial".
Dilma agradou à plateia quando disse que os países da América Latina passam por "transformações" que geram a redução da desigualdade social e o aumento da renda, enquanto países desenvolvidos enfrentam a exclusão social e a perda de direitos. "Nossos países, hoje, não sacrificam sua soberania frente às pressões de potências, grupos financeiros ou agências de classificação de risco. Nossos países avançam fortalecendo a democracia. Na América do Sul, como diz a canção da Revolução dos Cravos, o povo é quem mais ordena", declarou.
A plateia se empolgou quando Dilma afirmou que o lugar que o Brasil hoje ocupa no mundo "não é consequência de nenhum milagre econômico", como no passado. "É resultado do esforço do povo brasileiro e de seu governo que souberam ocupar um novo caminho. O Brasil hoje é um novo país, mais forte, mais desenvolvido e mais respeitado", declarou. "Ninguém pode nos tirar isso".
Ao falar sobre a posição brasileira no cenário internacional, a presidente afirmou que em todos os fóruns globais o país defende o "multilateralismo, o desarmamento e as posições negociadas para todas as ameaças à paz mundial". Dilma disse, ainda, ter expectativa de que a Palestina constitua "brevemente" um Estado livre e democrático, com "sua soberania garantida".
Dilma pediu mobilização dos movimentos sociais para a Rio + 20, conferência da ONU sobre desenvolvimento sustentável, que será realizada no Rio de Janeiro, em junho. O Fórum Social Mundial Temático é um preparatório para a conferência.
A presidente não enfrentou nenhum protesto direto, mas manifestantes pediram o veto ao novo Código Florestal, em tramitação no Congresso.
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