Até 40% das casas já são ocupadas por apenas uma pessoa
Homem sozinho num parque de Berlim Reuters |
BERLIM - Apesar dos incentivos do governo ao casamento e à geração de filhos, os alemães são cada vez mais um povo de solteiros. Um levantamento recente publicado no jornal "Frankfurter Allgemeine" mostrou que 40% das residências das grandes cidades são ocupados por apenas uma pessoa, número que duplicou nos últimos 30 anos. Hoje, a Alemanha só fica atrás da Noruega no ranking dos países do mundo onde mais gente vive só.
Clubes, hotelaria, construção civil e empresas alimentícias acompanham de perto a tendência e já oferecem produtos voltados para o nicho. E se há alguns anos os solteiros procuravam casas pequenas, hoje o alto poder aquisitivo — afinal, a Alemanha não está em crise — permite que vivam em espaços maiores, apartamentos com em média 80 metros quadrados. Além disso, se sai da casa dos pais aos 18 ou 20 anos. O resultado é que em Berlim, por exemplo, a demanda por moradia fez os preços do aluguel dispararem a uma média de 14 o metro quadrado, 40% a mais do que há oito anos.
Para especialistas, a vida moderna gera mais desencontros
O sociólogo Ulrich Beck, ex-professor da Universidade de Munique e considerado um dos principais pensadores alemães da atualidade, classifica a opção pela solteirice como reflexo da individualização da sociedade. E se no século XIX Karl Marx relacionava a individualização ao conflito de classes, Beck relaciona-a agora ao estresse e à pressão da vida moderna. As pessoas têm cada vez menos como meta objetivos tradicionais como casar e ter filhos — mesmo que viver sozinho acabe pesando nas contas.
A cantora pop Ina Müller ficou famosa quando, aos 40 anos, lançou o disco "40 anos e solteira". Hoje, seis anos depois, ela é bem-sucedida, bonita e não se casou.
— Um dia, depois de lutar pela carreira, observamos que os homens ideais já estão comprometidos ou buscam uma mulher que seja muito mais nova — acredita.
Para David Glowsky, da Universidade Livre de Berlim, mulheres têm dificuldade em encontrar um parceiro por causa da mentalidade dos alemães.
— São paxás, que querem ser superiores e buscam mulheres de origens mais simples como da Ásia e do Leste europeu. Os países preferidos são Polônia, Ucrânia e Tailândia.
"Excesso de valorização à autorrealização"
Christian Rauch tem 34 anos e é diretor do Instituto de Pesquisa do Futuro de Frankfurt. Ele diz que o trabalho o consome tanto que ainda não pensa em se casar.
— O maior obstáculo à formação de famílias é o excesso de valorização que se dá hoje à autorrealização.
O advogado Patrick Hildebrandt, de 31 anos, diz que as prioridades mudaram:
— A tendência à individualização ocorre não apenas na renúncia ao casamento.
Houve também uma mudança de posição em relação às associações e à igreja. Muitas pessoas não têm contato social tão intenso quanto antigamente — diz Hildebrandt, que acabou de conhecer sua namorada, mas tem um problema geográfico porque ela mora em Praga. — O medo do desemprego faz com que ninguém arrisque perder uma chance profissional por causa de um relacionamento.
O advogado, no entanto, descarta a tese de David Glowsky e diz que os homens da sua geração, ao contrário dos mais velhos, deixaram de ser "paxás", valorizando as mulheres que dedicam-se com igual intensidade às realizações profissionais e pessoais. Admite, no entanto, que isso leva a mais desencontros do que uniões.
O desencontro não é exclusivo entre os jovens. Segundo o "Frankfurter Allgemeine", os alemães acima dos 60 também vivem cada vez mais sós, muitos após dois ou três casamentos. Em cidades como Berlim e Munique, 50% dos matrimônios acabam em separação.
O Globo - 13/11/2011
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