RIO - Em tempos de dólar em baixa, o brasileiro comemora e vai às compras no exterior. Mas, como prudência nunca fez mal a ninguém, especialistas em finanças pessoais advertem que o bom momento no câmbio pode esconder perigosas armadilhas, principalmente no item que virou a coqueluche de hoje: o cartão internacional. Alguns detalhes - que fazem diferença no bolso - devem ser observados, como o pagamento de taxas extras no ato da compra (o IOF, de 2,38%, é uma delas) e atenção ao limite dos gastos e ao valor da cotação da moeda americana no dia do fechamento da fatura.
O educador financeiro Mauro Calil defende o uso do cartão apenas como um instrumento de socorro em casos de situações atípicas. O ideal, segundo Calil, é que o viajante leve em dinheiro o montante destinado às compras - e que faça um planejamento prévio para evitar surpresas desagradáveis.
- Um bom exemplo da necessidade do cartão de crédito foi quando o vulcão da Islândia entrou em erupção, em abril do ano passado, gerando um caos na Europa. Nessas emergências, ele ajuda. Outra vantagem é comprar passagens aéreas com cartão, que oferece vantagens, como seguro para bagagem e acidente pessoal. Mas o ideal é já levar em dinheiro o que for gastar em compras - afirma.
Um dos pontos mais importantes ressaltados pelos analistas é que a cotação do dólar no dia de fechamento da fatura do cartão é quase sempre diferente do câmbio do dia de pagamento da mesma. Na verdade, existem três datas que precisam estar na cabeça do consumidor: o dia da compra, o dia do fechamento da fatura pelo cartão de crédito e o dia do pagamento da fatura. Na hora da compra o dólar pode estar barato, mas o câmbio pode mudar muito até o dia do fechamento da fatura pelo cartão. E, se entre a data do fechamento da fatura e a data da compra também houver variação no câmbio, isso será acertado (para mais ou para menos) na fatura seguinte do cartão.
Uma das soluções para evitar a aposta é optar por fixar o pagamento em real no ato da compra, o que já é aceito por algumas lojas internacionais, diz o consultor financeiro Silvio Paixão, diretor da Associação Nacional dos Executivos de Finanças, Administração e Contabilidade (Anefac):
- É uma alternativa interessante, mas que apenas algumas lojas oferecem. O consumidor precisa estar consciente de que o valor da fatura (do cartão) pode estar maior do que a do ato da compra.
Silvio alerta também para a taxação a que os cartões internacionais estão sujeitos:
- Quem viaja para a Europa, por exemplo, está sujeito a duas operações cambiais no ato da compra: euro-dólar e dólar-real. A cada operação há uma taxa embutida.
Travellers checks: validade indefinida é vantagem
Outra aposta para evitar as armadilhas do câmbio favorável é a utilização dos travelers checks. Antônio De Julio, especialista em finanças e desenvolvimento pessoal do MoneyFit, observa que os cheques nominais, além de oferecerem mais segurança ao usuário, não têm prazo de validade. Com isso, é possível aproveitar uma cotação boa do dólar e comprar o cheque antes da viagem. É um meio de pagamento, no entanto, mais burocrático.
- É sempre bom levar ao exterior mais de um tipo de opção de pagamento. Gosto bastante dos travelers, principalmente por motivo de segurança. Ele requer uma assinatura no ato da compra. Além disso, não tem prazo de validade e impõe um limite dos gastos - diz De Julio.
O especialista afirma que o viajante deve ter o cuidado de anotar as despesas feitas no cartão de crédito - em real, claro - ao fim de cada dia.
- Normalmente, se o turista tem um limite alto no cartão, ele literalmente chuta o balde. Depois, acaba pagando o mínimo da fatura. E vem o tsunami, a ressaca violenta. Se no Brasil normalmente não olhamos o extrato, imagine no exterior. Daí a necessidade de um controle - afirma. - Minha dica é: leve uma calculadora de bolso e veja o quanto gastou em real.
Se o consumidor se descontrola e, na volta da viagem, só consegue pagar o limite mínimo da fatura, tem de arcar com juros estratosféricos sobre o que restou.
Silvio Paixão alerta ainda para a falsa sensação de bons negócios em compras feitas no exterior, que costuma acometer muita gente.
- Muitas pessoas gostam de se enganar. Existem situações em que os produtos são mais baratos lá fora do que aqui. Mas há situações inversas. Em viagens, normalmente as pessoas se permitem extrapolar o que eles tinham como orçamento. Aí mora o perigo.
Por fim, a dica dos especialistas é comprar a moeda do país de destino em casas de câmbio no Brasil.
- Câmbio de hotel nunca é barato. O interessante é levar (o dinheiro do local de destino). E pesquisar bastante as taxas das casas de câmbio - encerra Mauro Calil.
O Globo - Emanuel Alencar
Atenção às armadilhas do câmbio.
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