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Uma jogadora se prepara para sacar durante o aberto da Austrália. Denúncia de manipulação de resultados sacudiu o mundo do tênis - THOMAS PETER / REUTERS |
No mesmo dia da abertura do
Aberto da Austrália, primeiro Grand Slam do ano, uma denúncia de manipulação de
resultados sacudiu o mundo do tênis. Segundo uma reportagem da “BBC” e do site
“BuzzFeed News”, pelo menos 16 jogadores top-50 do ranking mundial da ATP
teriam protagonizado partidas arranjadas no circuito mundial nos últimos dez
anos. Entre os tenistas envolvidos estariam vencedores de Grand Slam. Todos ainda
estariam jogando no circuito mundial.
Logo após a divulgação da
reportagem, o tenista número 1 do mundo, Novak Djokovic, fez uma revelação que
mostra que o drama no esporte não é mera especulação. Ao comentar as denúncias
feitas pela “BBC”, o sérvio afirmou que já lhe ofereceram US$ 200 mil (R$ 809,2
mil) para participar de um jogo arranjado há oito anos. Na ocasião, o tenista
era um jovem de 20 anos, que ainda estava longe dos primeiros lugares do ranking
da ATP. Foi oferecido a Djokovic que ele entregasse um jogo de primeira rodada
em Petersburg, nos Estados Unidos, um torneio que ele acabou não participando.
- Eles não me abordaram
diretamente. Bem... foi oferecido a mim através de pessoas que trabalhavam
comigo naquela época, que estavam com a minha equipe. É claro que dissemos não
imediatamente. O cara que tentou falar comigo nem sequer falou comigo
diretamente. Infelizmente, houve algumas vezes, naquela época, naqueles dias,
rumores, algumas conversas, pessoas circulando. Eles (a equipe de Djoko)
lidavam com isso. Mas nos últimos seis, sete anos, não ouvi nada similar.
Pessoalmente, nunca fui abordado diretamente, então não tenho muito a dizer
sobre isso - lembrou Djokovic.
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O sérvio Novak Djokovic tenta aliviar o calor durante sua estréia em Melbourne. Número 1 do mundo disse que já lhe ofereceram dinheiro para perder uma partida há dez anos - JASON REED / REUTERS |
Após a sua vitória na estreia em
Melbourne sobre o coreano Hyeon Chung, o sérvio fez um discurso contundente
contra a corrupção no esporte.
- Aquilo (a oferta) me deixou
muito mal, pois eu não quero estar ligado a nada sobre isso. Alguns podem
pensar que é uma oportunidade. Para mim, é um crime no esporte. Eu não apoio
isso. Não há espaço para isso no esporte, especialmente no tênis. Eu sempre fui
cercado de pessoas que respeitam os valores do esporte. Foi assim que eu
cresci. Felizmente, para mim, eu não tive que, vocês sabem, me envolver
diretamente nestas situações particulares.
ATP PROMETE INVESTIGAR
Na reportagem da BBC, o
presidente da ATP, Chris Kermode, assegurou que nenhuma evidência de resultados
arranjados “foi ignorada por qualquer razão”. Mas ele prometeu “investigar
qualquer nova informação” envolvendo jogos arranjados no tênis.
- As autoridades do tênis
rejeitam qualquer sugestão de que a evidência de manipulação de resultados
tenha sido suprimida por qualquer razão ou não está sendo cuidadosamente
investigada. Embora a reportagem da "BBC" e do "Buzfeed"
tenha se referido a eventos acontecidos há dez anos, vamos investigar qualquer
nova informação - afirmou Kermode, acrescentando que a ATP investiu US$ 14
milhões (R$ 56,3 milhões) em medidas contra a corrupção no esporte.
A investigação dos jogos
arranjados no tênis começou depois de uma denúncia envolvendo o russo Nikolay
Davydenko. Ex-número 3 do mundo, o tenista teria abandonado de propósito uma
partida contra o argentino Martin Vassallo Arguello em um torneio em Sopot, na
Polônia, em 2007, para beneficiar apostadores. Os dois foram inocentados das
acusações iniciais, mas o caso acabou levando a uma profunda investigação
envolvendo os principais nomes da ATP.
A “BBC” informou que os casos
envolvem apostas vindas da Rússia e da Itália e incluiriam três partidas da
chave principal de Wimbledon. Mas as edições dos torneios e os jogadores
envolvidos não foram reveladas.
Os jogadores envolvidos são
acusados de violar a Unidade de Integridade do Tênis (TIU, na sigla em inglês),
que é uma espécie de regulamento da modalidade. Em 2009, a TIU iniciou uma nova
política anticorrupção, mas isso resultou em vetos a investigações de períodos
anteriores a 2009. Um relatório de 2008 apontava o envolvimento de 28 atletas
em casos suspeitos, mas, por causa das recomendações, as investigações não
foram levadas adiante.
O diretor de integridade do TIU,
Nigel Willerton, disse que não iria comentar as denúncias ou falar sobre
qualquer jogador em atividade que esteja sob investigação, pois seria
inapropriado.
Para Mark Phillips, um dos
investigadores responsáveis por analisar a partida entre Davydenko e Arguello,
há um grupo de dez atletas que são os maiores responsáveis pelo problema de
corrupção no esporte.
- Há um núcleo de dez atletas que
acreditamos que estão na raiz do problema. As evidências eram muito fortes.
Parece haver uma boa chance de cortar o mal pela raiz e obter um forte elemento
para erradicar as principais maçãs podres (do esporte) - analisou Phillips,
acrescentando que as evidências foram as mais fortes que ele viu em 20 anos trabalhando
como investigador.
TENISTAS SURPRESOS
Djokovic pediu que tudo seja
esclarecido para que o tênis não fique com dúvidas pairando sobre os seus
resultados.
- Não há espaço para qualquer
partida arranjada ou corrupção no esporte. Estamos tentando mantê-lo o mais
limpo possível. Nós temos, acredito, um esporte que evoluiu e atualizou os
programas e autoridades para lidar com estes casos particulares. Não acredito
que haja uma sombra sobre o nosso esporte. As pessoas estão falando sobre
nomes, tentando adivinhar quem seriam estes jogadores. Mas ainda não há uma
prova ou evidencia real da participação de qualquer jogador em atividade. Até
onde se sabe, são apenas especulações.
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Serena Willians faz um backhand durante a partida contra a italiana Camila Giorgi. Ela disse que nunca tinha ouvido falar em jogos arranjados no esporte - SAEED KHAN / AFP |
Alguns tenistas como o croata
Marin Cilic e o japonês Kei Nishikori ficaram surpresos com a denúncia e
disseram que nunca ouviram falar de jogos arranjados no esporte. Assim como a
tenista número 1 do mundo no feminino, a americana Serena Williams.
Após a vitória sobre a italiana
Camila Giordi, Serena disse que ficou sabendo da denúncia, mas afirmou nunca
ter ouvido nada sobre partidas arranjadas.
- Quando estou jogando - e eu só
posso falar por mim - eu me esforço muito, e todos contra quem eu joguei
parecem se esforçar muito (para vencer). Como atleta, eu faço tudo o que posso
não apenas para ser grande, mas por algo histórico. Se isso está acontecendo,
eu não sei de nada. Às vezes, eu fico numa espécie de bolha - afirmou.
O diretor executivo do Aberto da
Austrália, Craig Tiley, disse que o torneio de Melbourne tem um robusto sistema
anticorrupção.
- Todos os envolvidos no Aberto
da Austrália não vão tolerar qualquer desvio dos nossos valores e regras em
qualquer nível - garantiu.
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