O bate papo
ininterrupto entre pessoas no escritório é uma fonte de tensão em muitos locais
de trabalho.
Muitos contam os
mínimos detalhes de suas façanhas românticas, brigas conjugais, problemas
financeiros, cirurgias recentes ou os últimos disparates de suas sogras, quer
os colegas mostrem interesse ou não.
Esquivar-se
desses colegas de escritório que compartilham sua vida em excesso pode ser um
desafio difícil. Eles são como um livro aberto, mas na versão
"audiobook".
Amelia Blanquera
foi perturbada durante meses por um colega de trabalho que queria falar sobre
seus problemas familiares, namoro e experimentos com novos estilos de ioga. Ela
tentou desencorajá-lo mudando-se para uma mesa no centro do escritório para
dificultar as conversas. Ela também passou a usar fones de ouvido, que colocava
assim que ele aparecia em sua mesa. "Eu estou tentando trabalhar",
dizia Blanquera, que é procuradora da cidade de Nova York e escritora.
A gota d'água
foi quando o colega quis mostrar um livro de ioga tântrica e ela disse
rispidamente: "Eu não tenho tempo". Eles acabaram negociando um
acordo para ele parar de interrompê-la tanto. "Ele precisava de um
terapeuta, um bom amigo ou uma companheira, o que acabou conseguindo"
quando começou a namorar alguém fora do escritório, diz a procuradora.
Mais de três a
cada cinco funcionários afirmam que eles têm pelo menos um colega de trabalho
que se excede no compartilhamento de sua vida pessoal uma vez por semana ou
mais, de acordo com uma pesquisa entre 514 funcionários de empresas feito pela
SurveyMonkey Audience.
Aqueles que
falam em excesso acabam perturbando os colegas e arriscam não apenas prejudicar
suas próprias carreiras como as de outros. Para intervir, é necessário
elegância, porque muitos desses "tagarelas" são frágeis e desprovidos
de traquejo social. Muitos precisam de feedback direto e explícito para que
reconheçam as necessidades emocionais ou desejos que os levam a falar em
excesso.
Uma advogada de
um escritório especializado em mediação de divórcios na Califórnia não percebia
como suas conversas ininterruptas sobre seus problemas com o marido estavam
afetando os colegas. A advogada estava "usando o escritório para
desabafar, processar e tentar encontrar soluções" para seus problemas, e
os colegas estavam se queixando, diz Nancy Fagan, proprietária do escritório.
Fagan chamou a
advogada, assegurou-a que seu emprego não estava em perigo e a instruiu a parar
de usar o ambiente de trabalho para resolver seus problemas. Ela também
recomendou que a advogada procurasse um terapeuta e a conversa incessante teve
fim.
Certos excessos
estão vinculados a atributos que são úteis no trabalho. Billy Bauer adora se
gabar dos dólares obtidos em suas vendas mais recentes como diretor de
marketing da fabricante de produtos de couro Royce Leather, de New Jersey.
Recentemente, ele anunciou para os colegas que vendeu US$ 40.000 em uma semana,
e poucos meses antes havia se vangloriado de ter atingido a marca de US$ 1
milhão pelo segundo ano consecutivo.
Andrew Royce
Bauer, irmão de Billy, é o diretor-presidente da empresa e diz que nunca
recebeu queixas dos colegas, mas se preocupa com os exageros do irmão, que
podem deixar os funcionários desconfortáveis.
Já Billy
acredita que seus anúncios frequentes são parte da mesma personalidade
extrovertida que o torna um vendedor de sucesso.
Os gestores
andam na corda bamba tentando reduzir a falação indesejável no escritório numa
era em que conversas francas estão em voga. Matthew Reischer quer criar uma
atmosfera familiar em sua jovem empresa de serviços jurídicos, a
LegalAdvice.com. Mas ele não aprova quando os empregados compartilham as
histórias acumuladas em noites passadas bebendo e socializando com os colegas
em um bar próximo. Reischer não se importa se a histórias são um intercâmbio
entre duas pessoas, "mas os limites são diferentes no ambiente coletivo de
trabalho", diz ele, que já pediu a dois funcionários que tenham um pouco
mais de controle.
Conversas
pessoais caem bem quando são relevantes para as tarefas que estão sendo
executadas e têm o objetivo de fortalecer a equipe, em vez de atrair a atenção
para alguém. Lisa Rosh, professora assistente de administração da Universidade
Yeshiva, de Nova York, lembra de uma executiva do setor hospitalar tentando
acalmar os empregados que estavam preocupados com a possibilidade de perder o emprego
em uma reorganização planejada. A executiva contou a eles detalhes de como
havia sido demitida no passado, acrescentando que esperava cortar custos sem
demissões. Convencidos de que ela entendia seus medos, os funcionários se
acalmaram, diz ela.
Muitos tagarelas
não respeitam essas regras. Alguns são egoístas e narcisistas e "acham que
você quer saber todos os detalhes de suas vidas", diz Alain Hilfer,
diretor de psicologia do Centro Médico Maimonides, em Nova York. Narcisistas
falam sobre eventos relevantes ou triviais como se eles tivessem a mesma
importância e dando o mesmo peso para "Minha mãe morreu na semana
passada" e "Comi frango ontem à noite e foi o melhor da minha
vida", diz ele.
A ansiedade leva
algumas pessoas a dizer a primeira coisa que lhes vem à cabeça, diz Aimee
Cohen, uma consultora de carreira de Denver e autora de "Woman Up",
um livro que dá dicas de como as mulheres podem superar obstáculos
inconscientes para atingir o sucesso. As mulheres, em particular, tendem a "se
concentrar naquilo que as fazem se sentir mal", diz Cohen.
Ela aconselha
clientes a falar sobre si mesmos em termos positivos. Ela também sugere evitar
certos tópicos como salário, sexo, drogas, álcool, problemas médicos,
relacionamentos dramáticos ou visões negativas sobre o chefe, colegas de
trabalho, clientes ou empresas.
Para reduzir a
falação dos colegas, evite julgar ou rotular. Em vez disso, descreva o impacto
que o excesso de compartilhamento tem sobre você, de forma direta e honesta,
diz Rosh.
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