Os piores temores em relação à economia europeia se confirmaram com a divulgação do Produto Interno Bruto (PIB) da região nesta semana. Depois de ter crescido 0,8% no primeiro trimestre, o PIB dos 27 países da União Europeia aumentou apenas 0,2% no segundo trimestre em comparação com o anterior. A variação sobre 2010 despencou de 2,5% no primeiro trimestre para 1,7% no segundo.
Após quatro anos de recessão, acreditava-se em uma recuperação mais forte. Os efeitos negativos do tsunami no Japão e, principalmente, o agravamento da situação da dívida europeia colocam essa previsão em dúvida. No olho do furacão, a Grécia, cuja economia já havia se contraído em 7,4% em 2010, acumula queda de 6,9% nos 12 meses terminados em junho. Em Portugal, outro país problemático, o PIB ficou estagnado no segundo trimestre e caiu 0,9% em 12 meses.
Mas a pior revelação dos novos números é que a desaceleração atingiu o coração da Europa, a França e a Alemanha. Na França, a economia ficou estagnada no segundo trimestre e cresceu 1,6% sobre igual período de 2010, menos do que a média da região. O primeiro trimestre tinha sido animador, com crescimento de 0,9%, o melhor resultado trimestral em cinco anos. Mas o consumo interno encolheu. O desemprego está elevado, em 9,2%, chegando a 22,8% entre os jovens. Os bancos franceses, bastante expostos à dívida dos países da periferia do euro, reduziram o crédito, o que também desaquece os negócios.
Apesar de apresentar números melhores - crescimento de 0,1% no segundo trimestre e 2,8% sobre igual período de 2010 -, a Alemanha talvez esteja em uma situação mais delicada pois depende mais do mercado externo, que está fraco.
A estagnação nas economias da zona do euro produz o que o jornal "Financial Times" chamou de "paradoxo doloroso". A desaceleração econômica aumenta o sacrifício que esses países precisam fazer para colocar as finanças em ordem. Se a economia estivesse crescendo, as receitas estariam também em expansão, colaborando no ajuste. Como isso não está acontecendo, a maioria desses países terá que fazer cortes maiores de despesas e tomar medidas de austeridade mais severas, que aprofundarão a desaceleração.
Com o objetivo de tentar recuperar a confiança dos mercados, a Itália já anunciou um pacote de € 45 bilhões em cortes de despesas e aumento de impostos até 2013. A França, por sua vez, prometeu reduzir o déficit orçamentário em € 10 bilhões em 2012.
O quadro não é muito melhor em outras economias avançadas e vários especialistas não descartam o "double dip", ou duplo mergulho. Nos Estados Unidos, a atividade industrial se contraiu pelo terceiro trimestre consecutivo. No Japão, a queda do PIB foi de 0,3% no segundo trimestre, menos do que o esperado, mas vindo após a contração de 0,9% do primeiro trimestre. Assim as expectativas voltam-se para as economias emergentes que estão crescendo menos, o que coloca em dúvida a capacidade de tirarem o mundo da recessão, como fizeram em 2008. A China, por exemplo, deve crescer neste ano cerca de 9,5% e não os 14,2% de 2007.
Mas o pior de tudo é que o desempenho ruim da Alemanha e França afeta a capacidade desses países ajudarem os que estão com mais dificuldades na região. A tendência é Berlim e Paris preocuparem-se mais com as próprias finanças. Na Alemanha, a chanceler Angela Merkel já enfrenta grande oposição interna sempre que discute alguma ação na zona do euro Na França, Nicolas Sarkozy, que enfrentará eleições no próximo ano, certamente será mais cauteloso.
Essa conjuntura certamente influenciou os resultados tímidos da reunião de terça-feira entre Angela Merkel e Sarkozy. Os dois não quiseram levar adiante, ao menos por enquanto, a proposta de criar um bônus único da zona do euro, que poderia ser emitido por qualquer país que precisasse levantar recursos. O bônus reduziria os custos de captação para as economias mais problemáticas, aliviando sua situação. Mas certamente suas taxas seriam superiores às que pagam as economias mais ajustadas como a França e Alemanha, avaliadas como "triple A".
Também não falaram em aumentar o caixa de € 440 bilhões do European Financial Stability Facility (EFSF). Mas os dois renovaram o apoio ao euro e sugeriram a criação de uma espécie de governo comum econômico, proposta que ainda deverá passar pelos parlamentos nacionais e pelo Conselho Europeu, que reúne os governantes da região. Defenderam a criação do imposto sobre transações financeiras e da regra de ouro que obrigará os países a se comprometerem com o equilíbrio dos orçamentos. Não foi uma reunião satisfatória, mas um ponto de partida para a Alemanha e França assumirem suas responsabilidades.
Valor Econômico › Opinião
Após quatro anos de recessão, acreditava-se em uma recuperação mais forte. Os efeitos negativos do tsunami no Japão e, principalmente, o agravamento da situação da dívida europeia colocam essa previsão em dúvida. No olho do furacão, a Grécia, cuja economia já havia se contraído em 7,4% em 2010, acumula queda de 6,9% nos 12 meses terminados em junho. Em Portugal, outro país problemático, o PIB ficou estagnado no segundo trimestre e caiu 0,9% em 12 meses.
Mas a pior revelação dos novos números é que a desaceleração atingiu o coração da Europa, a França e a Alemanha. Na França, a economia ficou estagnada no segundo trimestre e cresceu 1,6% sobre igual período de 2010, menos do que a média da região. O primeiro trimestre tinha sido animador, com crescimento de 0,9%, o melhor resultado trimestral em cinco anos. Mas o consumo interno encolheu. O desemprego está elevado, em 9,2%, chegando a 22,8% entre os jovens. Os bancos franceses, bastante expostos à dívida dos países da periferia do euro, reduziram o crédito, o que também desaquece os negócios.
Apesar de apresentar números melhores - crescimento de 0,1% no segundo trimestre e 2,8% sobre igual período de 2010 -, a Alemanha talvez esteja em uma situação mais delicada pois depende mais do mercado externo, que está fraco.
A estagnação nas economias da zona do euro produz o que o jornal "Financial Times" chamou de "paradoxo doloroso". A desaceleração econômica aumenta o sacrifício que esses países precisam fazer para colocar as finanças em ordem. Se a economia estivesse crescendo, as receitas estariam também em expansão, colaborando no ajuste. Como isso não está acontecendo, a maioria desses países terá que fazer cortes maiores de despesas e tomar medidas de austeridade mais severas, que aprofundarão a desaceleração.
Com o objetivo de tentar recuperar a confiança dos mercados, a Itália já anunciou um pacote de € 45 bilhões em cortes de despesas e aumento de impostos até 2013. A França, por sua vez, prometeu reduzir o déficit orçamentário em € 10 bilhões em 2012.
O quadro não é muito melhor em outras economias avançadas e vários especialistas não descartam o "double dip", ou duplo mergulho. Nos Estados Unidos, a atividade industrial se contraiu pelo terceiro trimestre consecutivo. No Japão, a queda do PIB foi de 0,3% no segundo trimestre, menos do que o esperado, mas vindo após a contração de 0,9% do primeiro trimestre. Assim as expectativas voltam-se para as economias emergentes que estão crescendo menos, o que coloca em dúvida a capacidade de tirarem o mundo da recessão, como fizeram em 2008. A China, por exemplo, deve crescer neste ano cerca de 9,5% e não os 14,2% de 2007.
Mas o pior de tudo é que o desempenho ruim da Alemanha e França afeta a capacidade desses países ajudarem os que estão com mais dificuldades na região. A tendência é Berlim e Paris preocuparem-se mais com as próprias finanças. Na Alemanha, a chanceler Angela Merkel já enfrenta grande oposição interna sempre que discute alguma ação na zona do euro Na França, Nicolas Sarkozy, que enfrentará eleições no próximo ano, certamente será mais cauteloso.
Essa conjuntura certamente influenciou os resultados tímidos da reunião de terça-feira entre Angela Merkel e Sarkozy. Os dois não quiseram levar adiante, ao menos por enquanto, a proposta de criar um bônus único da zona do euro, que poderia ser emitido por qualquer país que precisasse levantar recursos. O bônus reduziria os custos de captação para as economias mais problemáticas, aliviando sua situação. Mas certamente suas taxas seriam superiores às que pagam as economias mais ajustadas como a França e Alemanha, avaliadas como "triple A".
Também não falaram em aumentar o caixa de € 440 bilhões do European Financial Stability Facility (EFSF). Mas os dois renovaram o apoio ao euro e sugeriram a criação de uma espécie de governo comum econômico, proposta que ainda deverá passar pelos parlamentos nacionais e pelo Conselho Europeu, que reúne os governantes da região. Defenderam a criação do imposto sobre transações financeiras e da regra de ouro que obrigará os países a se comprometerem com o equilíbrio dos orçamentos. Não foi uma reunião satisfatória, mas um ponto de partida para a Alemanha e França assumirem suas responsabilidades.
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