Ter ensino superior é sinônimo de um salário melhor. Pensando nisso, e também em ter mais conhecimento, a professora Paula Belmino da Silva, de 36 anos, começou a cursar pedagogia na Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), onde se formou em 2004. Nascida no interior do Estado, na cidade de Sete Lagoas, ela é a primeira de uma família de seis irmãos a conseguir um diploma. "Eles têm mais vontade de fazer faculdade depois que eu fiz, porque eu tenho mais estabilidade no emprego do que eles", conta.
Filha mais velha de um agricultor e de uma professora que começou a dar aulas em programas de alfabetização de adultos, quando o diploma ainda não era exigido, Paula veio para São Paulo em 2005, para morar com o namorado que conheceu na internet, hoje seu marido, e acabou passando em dois concursos públicos que exigiam nível superior. Hoje, dá aula em duas escolas, uma estadual e outra municipal, para alunos de 1ª a 4ª série, mas já pensa em cursar uma segunda faculdade, ou uma pós-graduação, para melhorar sua renda e ter mais tempo para ficar com sua filha Alice, que tem quatro anos.
A professora faz parte da população ocupada com 11 anos ou mais de estudo, que representava 59,2% dos empregados em 2010, nas seis regiões metropolitanas analisadas pela Pesquisa Mensal do Emprego (PME) do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Em 2003, pessoas com essa escolaridade representavam 46,7% da população empregada. Dentro desse grupo, o número de pessoas com nível superior cresceu 54% entre 2003 e 2010.
Dados do IBGE mostram, no entanto, que o rendimento médio real dos ocupados com diploma superior cresceu apenas 0,3% no mesmo período nas regiões analisadas pela PME - Recife, Salvador, Belo Horizonte, Rio de Janeiro, São Paulo e Porto Alegre. Ao mesmo tempo, o ganho médio da população ocupada em geral avançou 19%, de R$ 1.252,48 em 2003 para R$ 1.490,61 em 2010, descontada a inflação do período.
A estagnação da renda de trabalhadores com nível superior foi puxada por São Paulo, onde a remuneração média real caiu 6,6% no período. Mesmo assim, a renda do paulistano com faculdade, de R$ 3.690,88 em 2010, ainda é a maior do segmento entre as seis regiões metropolitanas da PME.
Segundo economistas especializados em mercado de trabalho e educação consultados pelo Valor, a expansão do ensino superior - provocada pela maior oferta de cursos em redes privadas e programas governamentais como o ProUni - e o consequente retardamento da entrada de jovens na População Economicamente Ativa (PEA) aumentaram a oferta de mão de obra qualificada e puxaram o salário desse profissional para baixo, já que a remuneração do primeiro emprego tende a ser inferior.
Apesar disso, é consenso que o diploma será cada vez mais o que já é atualmente: uma exigência de acesso ao mercado de trabalho e, portanto, a garantia de um futuro e de uma renda melhor.
"O Brasil está de cabeça para baixo em relação ao resto do mundo", diz Marcelo Neri, economista-chefe do Centro de Políticas Sociais da Fundação Getulio Vargas (CPS-FGV). "Enquanto todos lá fora que têm educação estão tendo ganho de renda maior, aqui acontece o oposto."
Neri, contudo, cita dados de uma pesquisa do CPS que cruza informações da PME com a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad), também feita pelo IBGE, para concluir que esse dado tem um lado positivo: a desigualdade no país está caindo, enquanto em outros países, ela está aumentando. Descontada a inflação, a renda dos 50% mais pobres avançou 52,59% no Brasil entre 2001 e 2009, ao passo que a renda dos 10% mais ricos aumentou apenas 12,8% no mesmo período. "Todas as desigualdades estão caindo, e o que está por trás disso é a educação", avalia.
Paulo Corbucci, técnico em planejamento e pesquisa do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), destaca que a estagnação nos salários da população com nível superior não é homogênea. Na opinião do pesquisador, há carreiras com excesso de oferta - como administradores e advogados - que puxam os salários para baixo, enquanto profissões mais demandadas impulsionam a média da remuneração para cima, contrabalançando a queda na outra ponta. "Em regiões interioranas, por exemplo, não há oferta de médicos. São oferecidos salários altíssimos e as pessoas não querem ir para lá."
Outro fator que pode estar trazendo os salários de graduados para baixo, afirma o economista Sérgio Mendonça, do Departamento Intersindical de Estatísticas e Estudos Socioeconômicos (Dieese), é o aproveitamento dessas pessoas em vagas menos qualificadas, já que elas não encontram colocação na área onde se formaram, o que também é reflexo da oferta excessiva de alguns profissionais. "Praticamente 80% das vagas que estão sendo criadas exigem ensino médio completo para cima, o que virou uma barreira no mercado de trabalho". Muitas vezes, o empregador prefere contratar alguém com nível superior, mesmo que a colocação não exija diploma, diz Mendonça, porque, em tese, um graduado teria recursos maiores para apreender mais rápido os conhecimentos necessários à sua função.
Por outro lado, caso esse profissional recuse um posto menos qualificado, pode acabar ficando desempregado. Para Naercio Menezes Filho, coordenador do Centro de Políticas Públicas do Insper, isso pode explicar porque as pessoas com 11 anos de estudo ou mais têm cada vez mais peso na população sem emprego. Em abril de 2011, elas representavam 59% da população desocupada. Em 2003, 39,8% dos desempregados tinha esse nível de escolaridade.
"Com a ascensão das classes C e D, a demanda que está aumentando é por empregadas domésticas, motoristas, além da construção civil, e com o salário mínimo aumentando, o rendimento dessas pessoas cresce mais em relação com o daqueles que possuem nível superior", observa Menezes Filho.
Apesar da menor remuneração inicial, os dados do IBGE mostram que o diploma superior garante uma maior participação no mercado de trabalho. Em 2010, 78,9% da população em idade ativa com curso superior estava trabalhando. Para o grupo de escolaridade média (oito a dez anos), o nível de ocupação estava em 50,4%.
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