quinta-feira, 30 de dezembro de 2010

São Silvestre - Última prova do ano requer cuidados especiais e estratégia

CORREDORES NA largada da tradicional Corrida de São Silvestre do ano passado na Avenida Paulista

Mário Sérgio Andrade Silva*

Todo país com um calendário de corridas movimentado tem sua prova tradicional. Na Europa é a Extra-Milano; nos Estados Unidos, a maratona de Boston e aqui, na América do Sul, a prova mais tradicional e, por consequência, a com maior história, é a paulista São Silvestre.

Quem tem mais de 40 anos vai se lembrar como eram as ceias de réveillon vendo na TV (na época à noite) a prova que fechava o ano e mostrava as disputas daqueles loucos que corriam os 12 km e que, exauridos, completavam a prova com uma subida bem dura na Avenida Consolação, para delírio de milhares de pessoas que estavam na rua comemorando a virada do ano.

O tempo passou, mudou de horário e ganhou mais 3km. Porém, nesse novo trajeto, inverteram o sentido, descendo a Avenida Consolação e subindo a tão famosa e temida Avenida Brigadeiro Luis Antônio. Eu sempre comento que a São Silvestre é uma das provas mais técnicas e difíceis e que seus 15km tem um desgaste equivalente a uma meia maratona. Qual a razão disso?

Horário/temperatura: Por ser a largada feminina às 15h e a masculina, às 17h, e por estarmos em pleno verão, não é raro, as temperaturas estarem ainda altas perto dos 30º e bem no horário das chuvas de verão, que são verdadeiras tempestades, rápidas e fortes o suficiente para exalar uma alta umidade após o contato da água com o solo quente. Assim, é muito importante o corredor iniciar a prova hidratado e continuar se hidratando ao longo da corrida, sempre consumindo 250ml a cada 3km ou 15 minutos para chegar ao fim sem apresentar nenhum processo de desidratação.

Percurso Praticamente metade do percurso é de descida, iniciando com a Consolação, aonde é muito comum os corredores “soltarem” a perna e aumentarem muito o ritmo, afinal, para baixo todo santo ajuda. Mas é também esse um dos maiores erros de estratégia, pois ainda é o inicio de prova e, neste momento, o melhor é aproveitar essa parte da prova para fazer seu ritmo pré-planejado e guardar forças para a segunda metade. Objetivo disso é adiar o aumento do ácido láctico e permitir que, na hora que precisar de suas pernas, elas estejam prontas para responder. Além disso, o trajeto tem alguns sobe e desce que ajudam a “minar”' as forças. Assim, uma boa estratégia é fundamental para completar a prova com saúde e segurança.

Quantidade de corredores: Foi se o tempo onde se corria junto com outras dez mil pessoas e, assim, podia-se correr sem ser empurrado pela massa. Hoje, mais de 20 mil corredores participam desse evento. Corre-se sempre “empacotado” e, nessa hora, a melhor estratégia para aqueles que correm mais forte é chegar cedo e se posicionar bem (logo após a largada feminina) e, infelizmente, aguardar até o tiro de largada. Lembre-se de levar uma garrafa de água ou uma bebida isotônica para manter sua hidratação nessas duas horas antes da prova. Para aqueles que querem apenas completar ou mesmo os que são mais lentos, recomendo que larguem atrás da massa, evitando atropelamentos dos corredores mais rápidos. Também é bom correr próximo ao meio fio, assim os mais rápidos são obrigados a passar “por fora” evitando colisões.

Alimentação: Como a largada é às 15h (mulheres) ou às 17h (homens), recomendo que o atleta se alimente de uma fonte de carboidrato (massa) com molho leve de tomate às 12h e, que às 15h tome uma bebida com carboidrato ou mesmo um gel de carboidrato para manter os níveis de açúcar estáveis. Muitas pessoas erram ao se alimentar com comidas pesadas que, com o calor da época, podem fazer com que elas se sintam mal e indispostas. Outro erro é esquecer que ao se alimentar às 12h e ficar até as 17h sem comer nada, inicia-se a prova em débito e com a curva glicêmica em baixa. Sem dúvida, um grande e perigoso erro. Por isso, a importância de ingerir a cada 3h uma fonte de carboidrato.

Hidratação: É fundamental manter-se hidratado antes, durante e após a prova. Como? Tomando água ao longo do dia; levando para a largada uma garrafinha, e alternando-a com uma bebida isotônica antes da partida. Durante a prova, a cada 3km, tomar pelo menos 250ml de água e, após a prova, reidratar-se com isotônico, afim de manter o seu nível de hidratação em uma patamar seguro para que possa curtir seu réveillon sem os efeitos danosos da desidratação.

Subida da Brigadeiro: São 2km de subida com moderada inclinação. Bem no final da prova e com a temperatura ambiente alta, é muito importante estar com um “gás” extra guardado para quando fores enfrentá-la. Como falei, a primeira metade da prova é predominantemente de descida, assim, se poupar para o que vem pela frente acaba sendo a chave de uma boa prova.

Por fim, ao atentar para esses detalhes, você estará em condições de correr e curtir a prova mais tradicional, democrática e disputada do Brasil. Na minha opinião, todo corredor que se preze deveria fazer pela menos uma vez na vida.

Aproveite para conhecer também um pouco mais da cidade ao observar, ao longo do trajeto, suas particularidades.

Pelo percurso, o corredor verá a pujança da Avenida Paulista; o Centro velho de São Paulo; vai cantarolar um trecho da canção “Sampa”, de Caetano Veloso (“quando cruza Ipiranga e com a Avenida São João”); correr sobre um dos monumentos anti-estéticos da cidade, o Minhocão, no km 6; vai limpar a impressão da feiura do viaduto ao ver o Memorial da América Latina; a estátua de Duque de Caxias, no km 10; observar o Largo do Paysandu, o Teatro Municipal e Viaduto do Chá. Logo após, os atletas terão uma subidinha, que passará pela tradicional Faculdade de Direito do Largo de São Francisco para despencar em uma rápida e íngreme descida até o início da Brigadeiro Luis Antônio. Neste momento, o ideal é pegar um ar e se preparar para subi-la e mentalizar a linha de chegada, que estará logo após o fim da ladeira, na Avenida Paulista.

Boa sorte e lembre-se que a linha de chegada é apenas o início para uma vida saudável e muito mais feliz.

MÁRIO SÉRGIO ANDRADE SILVA é diretor técnico da Run&Fun, de São Paulo

Nenhum comentário: